O presidente Lula, num mesmo dia, fez três visitas à mesma obra, a BR-101, no Nordeste. Evidentemente que não foi sempre ao mesmo lugar, mas sim a diferentes trechos da rodovia esburacada, sob o pretexto de acompanhar os trabalhos de tapa-buracos, que, na derradeira hora, decidiu realizar antes que a intransitabilidade de tantas rodovias provocasse o encalhe de sua candidatura à reeleição.
Foi feliz ao repetir que estão acusando a operação tapa-buracos como sendo eleitoreira, mas se não a fizer, será motivo para ataques eleitoreiros de seus opositores. E, entre estes e os interesses do povo, fica com os do povo. Sofisma ou não, foi uma sucessão de frases de efeito que, aos ouvidos menos atentos, soam como verdades contundentes e absolutas.
À noite, o presidente falou em cadeia nacional de televisão, mais uma vez comemorando o pagamento antecipado de mais de 15 bilhões de dólares que o Brasil devia ao FMI e poderia saldar até 2007. Sabedor das críticas que lhe fazem por realizar esse pagamento antecipado, quando os empréstimos do Fundo são a juros bem razoáveis e o dinheiro, se estava disponível, poderia ter sido usado em ações aqui mesmo, dentro do Brasil, promovendo o desenvolvimento econômico e social, a geração de empregos e tudo o mais que necessitamos e tem sido objeto de desleixo, procrastinação ou mesmo descarte, Lula procurou valorizar a decisão do seu governo. Disse que o pagamento antecipado nos livra da tutela do Fundo Monetário Internacional, transformando o Brasil de devedor em sócio. Que essa atitude garante a nossa soberania e o direito de caminharmos com as próprias pernas. Que, doravante, o Brasil vai crescer com seus próprios recursos, não mais precisando de empréstimos externos.
Que bom, se fosse verdade!
É possível e até provável que tão cedo o nosso País não volte a socorrer-se no caixa do FMI, solicitando novos empréstimos, que certamente obteria, pois, afinal de contas, é um bom pagador. Mais do que bom, ótimo, pois paga adiantado. Mas a quitação com o FMI não significa que não mais pediremos dinheiro do exterior, pois o Brasil continua colocando no mercado seus títulos, que são absorvidos por investidores nacionais e principalmente estrangeiros. Aliás, todos os países são fregueses desse dinheiro disponível, existente no mundo e que migra de um destino a outro, conforme as chances de lucro e a segurança que ofereçam.
O Brasil, pagando o empréstimo com o FMI, teve sua posição melhorada no ?ranking? dos países solicitantes desses créditos e venderá, com maior facilidade e menores juros, seus títulos. Mas não sairá do mercado, pois isso não existe na economia mundial globalizada. Cabe lembrar uma frase do ex-ministro Delfim Neto, que disse: ?Dívida externa não se paga; se rola?. Mesmo os países desenvolvidos levantam recursos no exterior para financiar seu desenvolvimento ou mesmo para rolar suas dívidas.
O Brasil não é, não pode ser, nem será uma exceção. Mas, sem dúvida, Lula dizendo em cadeia nacional que agora a gente não precisa mais de empréstimos e vai viver com recursos próprios, dá cartaz. Até votos.