Dez bairros concentram aproximadamente 40% dos casos de roubo e furto a casas em Curitiba em 2016. Segundo levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), regiões como Sítio Cercado, Cidade Industrial, Cajuru, Uberaba e Boqueirão somam 3.960 casos das 9.494 ocorrências registradas ao longo de todo o ano passado junto com Xaxim, Tatuquara, Pinheirinho, Alto Boqueirão e Bairro Alto.
Os dados levam em conta os casos computados em 75 bairros da capital paranaense e chamam a atenção principalmente pela alta concentração nesses locais, que formam uma espécie de “cinturão da violência”, que cruza a cidade de leste a oeste, afetando principalmente os bairros mais afastados do Centro.
Os furtos são ainda os crimes mais comuns. Somente nas regiões mais vulneráveis, eles totalizaram 3.042 casos no ano passado. Já os roubos, considerados mais violentos por haver contato entre criminoso e vítima, representam um total de 21% das ocorrências registradas em toda Curitiba. Das 2.016 invasões que aconteceram na cidade, quase metade delas foi feitas nesses bairros. Foram 918 casos.
Ranking de ocorrências
Dos 9.494 casos de furtos e roubos registrados em Curitiba em 2016, 3.960 aconteceram em apenas 10 bairros — mais de 40% do total. Confira as regiões em que esse crime é mais frequente.
1 – Sítio Cercado: 654 ocorrências
2 – Cidade Industrial: 635
3 – Cajuru: 464
4 – Uberaba: 402
5 – Boqueirão: 395
6 – Xaxim: 342
7 – Tatuquara: 321
8 – Pinheirinho: 255
9 – Alto Boqueirão: 247
10 – Bairro Alto: 245
Crise econômica
Segundo a secretaria, a disparada da violência em 2016 é um reflexo da crise econômica do país. “Com mais de 12 milhões de desempregados, houve uma alta nos índices de crimes de furto e roubo em todos os estados”, explica a pasta por meio de nota.
E essa estatística afeta diretamente a vida de quem mora nessas regiões. João*, por exemplo, já teve várias surpresas desagradáveis. Morador do Uberaba, ele diz que sua casa já foi invadida diversas vezes e isso forçou a mudança de alguns hábitos. “Na primeira vez, roubaram minha moto da garagem. Desde então, passei a guardá-la dentro de casa, na sala”, conta o autônomo. Além disso, instalou sistema de segurança e conta que, mesmo assim, se sente inseguro no bairro onde cresceu. “No último fim de semana, tentaram invadir de novo. Arrombaram o portão, mas fugiram quando o alarme disparou”, relembra. “Adoro a região, mas penso em me mudar exatamente por causa desse tipo de preocupação”.
Ele não é o único a conviver com esse receio. O Uberaba é o quarto no ranking da violência, com 402 casos registrados. Tanto que ele conta não ser difícil encontrar amigos e vizinhos que tenham passado pela mesma situação ou que tenham sido vítimas de roubo dentro de casa, algumas vezes com os criminosos armados.
Nobres, mas perigosos
Mas não são apenas as áreas mais afastadas do Centro que aparecem em destaque no ingrato ranking. A própria região central e bairros próximos também tiveram um número elevado de roubos e furtos no ano passado. E isso inclui vizinhanças consideradas mais valorizadas, como o Água Verde, que aparece em 13.º na lista com 203 casos registrados. Na posição seguinte está Santa Felicidade, com 202 ocorrências. O Bacacheri e o Centro dividem a 18.ª colocação, ambos com 174 casos.
E a polícia?
De acordo com a Sesp, 3.300 pessoas foram detidas e encaminhadas às delegacias pelos crimes de furto e roubo em Curitiba no ano passado, mas somente 300 delas permaneceram presas — ou seja, apenas 9%. Não por acaso, um mesmo homem foi detido 16 vezes por invadir casas no ano passado. Em 2017, já foram 128 detenções até o dia 13 de junho.
A secretaria diz ainda que, em 2016, 2 mil novos policiais e 250 viaturas passaram a atuar em Curitiba e região metropolitana, “o que ajudou a reduzir os registros desta atividade criminosa”.
Já a Polícia Militar destaca, por meio de nota, que a atuação é feita “diariamente e diuturnamente em todas as áreas, bairros e ruas, com intuito de prevenir a criminalidade de maneira geral” a partir de “patrulhamento, abordagens, blitzes e outras modalidades de policiamento adequadas para cada região”, além das Unidades Paraná Seguro (UPS) espalhados pelos bairros da capital. O órgão diz ainda que denúncias feitas pelos telefones 181 e 190 ajudam a tornar o trabalho de policiamento preventivo ainda mais eficiente.
Confira a nota da Polícia Militar na íntegra
“O Primeiro Comando Regional de Polícia Militar (1º CRPM), responsável pela Capital, informa que o policiamento que cabe à Polícia Militar está sendo feito diariamente e diuturnamente em todas as áreas, bairros e ruas, com intuito de prevenir a criminalidade de maneira geral. Este trabalho é feito por meio de patrulhamento, abordagens, blitzes e outras modalidades de policiamento adequadas para cada região. São utilizados os policiais com viaturas, módulos móveis, motos, cavalos e cães, de maneira planejada, para que o crime seja sempre diminuído.
A PM atende as mais distintas ocorrências como furtos, roubos, perturbação do sossego, entre outras, priorizando sempre as de perigo à vida. Este trabalho tem resultado em diversas prisões de pessoas e apreensões de adolescentes e materiais ilícitos diariamente em toda a capital do estado.
Em toda a área central, por e exemplo, tem sido aplicado policiamento com motocicletas, o que permite melhor acesso dos policiais em alguns locais. As Praças em si também são atendidas pela PM, quando acionada via 190 ou quando a equipe policial presencia alguma situação. Em muitas delas é feito um trabalho conjunto da Polícia Militar com a Guarda Municipal. Há pouco tempo o também foi iniciado na região central um trabalho de policiamento comunitário, com a presença de módulos móveis e policiais que conversam com moradores e comerciantes.
Na cidade Industrial de Curitiba, além do policiamento já citado, a PM conta com 5 Unidades Paraná Seguro (UPS) que também fazem um trabalho comunitário e de atendimento à população. Em outras regiões da cidade, também existe a presença de UPS.
No entanto, para que o trabalho seja ainda mais eficiente é necessário que a comunidade denuncie as situações presenciadas, o que pode ser feito anonimamente pelo 181 ou pelo telefone 190. Também no momento de ocorrência, a PM está à disposição por meio do telefone 190 para enviar uma viatura que vai atender o solicitante.
Após o ocorrido, a responsabilidade de investigação é da Polícia Civil, portanto se o cidadão possuir informações sobre os suspeitos como vestimentas, tipo físico, que tipo de condução utiliza bem como a rotina utilizada pelo marginal deve procurar uma delegacia e entregar os dados.
O boletim de ocorrência também é uma ferramenta importante na Readequação do policiamento diário, por isso a PM pede que a população sempre registre o documento, que pode ser feito durante o atendimento de uma viatura ao cidadão ou, depois do fato ocorrido, em uma delegacia da Polícia Civil.”
*O nome foi alterado a pedido do entrevistado. A vítima teme represálias.