O policial militar que matou um jogador de futebol amador em Campina Grande do Sul, na Grande Curitiba, em 17 de julho, agora é réu no processo que apura as circunstâncias do crime. Eurico Gerson de Araújo Pires foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná pela morte de Gilson da Costa de Camargo, de 28 anos, e o Juízo da Vara Criminal da cidade acatou a acusação. Ele responde por homicídio qualificado mediante surpresa, o que dificultou a defesa da vítima, e fraude processual.
Gilson foi atingido nas costas pelos tiros disparados pelo soldado Gerson logo depois de uma discussão que começou ainda durante a partida. O jogo foi em um campo de futebol do bairro Santa Rosa. O policial – que integra a equipe de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) e é lotado no 22º Batalhão – estava de folga no dia do crime.
Logo depois do crime, quando o soldado era levado no carro da polícia para a delegacia, populares o chamaram de covarde e o acusaram de ter matado um pai de família. O PM entregou a arma que usou sem resistência e, em depoimento, disse que agiu em legítima defesa.
Legítima defesa?
A explicação dada pelo soldado foi a de que Gilson tinha ameaçado outras pessoas e reagiu a uma tentativa de abordagem. O policial chegou a apresentar um revólver calibre 38 dizendo que pertencia a Gilson, mas as investigações comprovaram que isso era mentira.
Segundo as investigações, o revólver foi plantado com a ajuda de outro policial, identificado como soldado Mendes, que teria levado a arma até delegacia em uma mochila com roupas. Conforme o delegado Messias Antônio da Rosa, ele recebeu a bolsa das mãos da mulher de Gerson que pediu que ele a entregasse ao marido, para que ele tirasse o uniforme do futebol. ‘Acreditamos que o 38 estava nessa bolsa‘. Em depoimento, Mendes disse que não sabia o que havia dentro da mochila.
Arma furtada
As apurações da polícia também revelaram que a arma apresentada pelo soldado Gerson na delegacia era furtada. O dono mora em Joinville, Santa Catarina, e também foi ouvido. Ele contou que o 38 foi levado do estabelecimento comercial dele.
Matou porque quis
Para os promotores, o policial militar agiu com a intenção de matar. Ainda conforme o Ministério Público, ao aceitar a denúncia, a Justiça também determinou a conversão da prisão do policial de temporária para preventiva.
O soldado Gerson está na carceragem do Batalhão de Polícia de Guarda, em Piraquara, também na Região Metropolitana, desde 21 de julho. Inicialmente a prisão dele tinha validade de 30 dias, mas, com a decisão judicial, agora não há mais prazo para que ele seja solto.
Outro processo
O Comando da Polícia Militar também abriu um processo interno para coletar provas, documentos e testemunhos que ajudem a esclarecer o caso. Se for condenado, além de cumprir a pena imposta pela Justiça, o soldado – que tem cinco anos de corporação e até então não tinha nenhum fato desabonador no currículo – ainda perde o cargo de forma definitiva. De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato, a culpabilidade investigada pela Polícia Civil e, em paralelo, pela Polícia Militar em um Inquérito Policial Militar (IMP), será decidida após a conclusão do processo administrativo, que vem depois da conclusão do IPM.