Além de extorquirem um rapaz abordado, os quatro policiais militares presos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público do Paraná (MP-PR) também portavam armas com numeração suprimida e droga. A informação foi confirmada na manhã desta quinta-feira (7) pelo coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, que contou também que os quatro PMs tentaram fugir quando viram que tinham sido descobertos.
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Os quatro policiais foram identificados como Leandro Eduardo do Vale, Leandro Santi, Alexandre Francisco Silva e Emerson Willian Dos Santos Gimenes. Com eles, depois de serem perseguidos pelo Gaeco, foram encontrados dois revólveres calibre 38. Depois, já no quartel do 17º Batalhão, mais uma arma foi achada, no bagageiro da viatura usada pelos PMs, e no interior do veículo foi achada uma pequena porção de uma substância parecida com crack escondida numa caixa de fósforo.
“Ao todo, encontramos três armas, muitas munições (inclusive estrangeiras), a pequena porção de droga e também uma ferramenta conhecida como mixa”, detalhou Leonir Batisti, destacando que as três armas estavam raspadas. “Eles disseram ser deles, mas como não tinham o registro necessário e a numeração de todas elas estava raspada, acabaram detidos também por este crime. Não sabemos para qual fim seriam usadas estas armas pois, se quisessem, poderiam comprar uma arma além da que possuíam, da corporação, desde que fizessem o registro corretamente”.
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Como foi a ação
A situação começou na tarde desta quarta-feira (6), por volta das 15h30, quando um rapaz, que já tem ficha criminal, foi abordado em São José dos Pinhais, na Região Metropolita de Curitiba (RMC). “Os policiais fizeram uma revista, não encontraram nada, mas exigiram dinheiro se não iriam até a casa dele, onde disseram que encontrariam armas e drogas”, detalhou Leonir Batisti.
Como o rapaz não tinha o dinheiro pedido pelos PMs, R$ 16 mil, ficou combinado que mais tarde, às 20h, ele se encontraria com eles novamente e entregaria a quantia. O combinado era de que o rapaz ficaria com seu veículo estacionado na Rua Joao Dombrowski, no bairro Braga, em São José dos Pinhais.
No local, ele passaria por uma nova abordagem pelos policiais, que pegariam o dinheiro que deveria ser colocado embaixo do tapete do carro. “No horário combinado, chegou primeiro o rapaz, que já era acompanhado pelo Gaeco numa distância segura. Depois, chegou a viatura da PM. Os policiais abordaram o rapaz e um deles foi até o carro, onde pegou o dinheiro. Em seguida, fugiram”, narrou o coordenador do Gaeco.
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Depois da abordagem falsa, os policiais liberaram o rapaz e saíram do local. “Eles seguiram e foram imediatamente seguidos pelas nossas equipes, que acionaram todos os avisos possíveis, mas os policiais não pararam. Eles foram parar só depois de aproximadamente três quilômetros, já na alça de acesso do Contorno Leste”, contou Leonir.
Durante a abordagem aos policiais, o Gaeco não encontrou o dinheiro pego com o rapaz que os denunciou, diferente do que foi noticiado anteriormente. Apesar disso, o rapaz teria feito xerox das cédulas passadas para os policiais. “O dinheiro pode ter sido arremessado pelo caminho, mas a situação da concussão (crime praticado por servidores públicos, equivalente a extorsão) ficou caracterizada por si só”, explicou.
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Complicou ainda mais
Os quatro policiais foram encaminhados ao Gaeco, onde foram ouvidos. Eles foram autuados por concussão e também pela posse das armas. Por serem PMs, eles têm o direito de ficarem detidos num quartel da corporação, mas o Gaeco não soube informar se foram transferidos para o 17º BPM, o qual pertencem, ou se para outra unidade.
Leonir defendeu que, por pior que seja a situação que se encontra um servidor público, ele deve dar exemplo. “Todos cometem deslizes, mas aquele que é pago pelo Estado para fazer alguma coisa, deve fazer o que ele é pago e não o contrário”.
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Para o coordenador do Gaeco, é impossível imaginar o que leva um policial a cometer este tipo de crime. “Talvez ambição, a certeza de que vão continuar impunes. Mas cabe às pessoas denunciarem, para que evitemos que continue esse efeito de impunidade. As pessoas devem ser firmes, por isso temos o Gaeco para apurar estes tipos de situações”.
O rapaz que denunciou já tinha alguns boletins de ocorrência contra si por crimes como tráfico de drogas, posse de arma, briga e até homicídio. Conforme Leonir Batisti, ele deve receber uma espécie de proteção do Estado, mas não vai para o sistema de proteção de testemunhas. Ainda de acordo com o coordenador do Gaeco, ainda que ele estivesse cometendo algum crime no momento em que foi abordado pelos PMs, o certo seria a prisão e não a extorsão. “Fazer-se cumprir a lei, simplesmente”.
Procurada, a PM, em nota, informou que é integrante do Gaeco e que participou efetivamente das prisões dos quatro policiais citados na reportagem. “Os soldados estão à disposição do Gaeco e das investigações e a PM vai colaborar para o esclarecimento dos fatos”, considerou a corporação, destacando ainda que não compactua com desvios de conduta de seus integrantes. “Se comprovada alguma irregularidade, as medidas de expurgo e saneamento serão tomadas pela Corregedoria Geral da PM no rigor da lei e os envolvidos responsabilizadas administrativa e criminalmente”, concluiu a nota. Os advogados dos policiais presos não foram localizados.
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