Policiais são julgados no Tribunal do Júri, em Curitiba. Foto: Felipe Rosa
Policiais são julgados no Tribunal do Júri, em Curitiba. Foto: Felipe Rosa

Cinco policiais militares que estavam sendo julgados por triplo homicídio qualificado e fraude processual, foram absolvidos pelo júri popular no Tribunal do Júri de Curitiba, na noite desta quinta-feira (19). Os policiais alegavam legítima defesa e eram acusados de assassinar três jovens no bairro Umbará, em Curitiba, no dia 19 de outubro de 2013.

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À época, a polícia procurava suspeitos de terem assaltado uma residência na região. Nas buscas pelos ladrões, os policiais se depararam com os três jovens na rua, concluindo que seriam os assaltantes. Os policiais que estão no júri, José Eleutério da Rocha, Vagner de Oliveira Moro, Clério Carneiro, Silvestre de Oliveira Lopes e Élinson Chitiko, dizem que os jovens correram quando viram a polícia, entraram no matagal e receberam a polícia a tiros. Por isto houve confronto e Pedro Paulo Fernandes, 25 anos, Gilberto Leite da Silva Júnior, 17 anos, e Eduardo dos Anjos Poleto, 16 anos, foram mortos.

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Já a irmã de Pedro, Isabele – que esteve acompanhando o júri nesta quinta-feira – diz que a história não é esta. Ela afirma que os meninos estavam numa praça, perto de casa, bebendo. Os policiais abordaram o trio, os colocaram vivos dentro de uma viatura e levaram para dentro do matagal, onde os meninos foram executados. E que os verdadeiros assaltantes até hoje nunca foram encontrados.

O júri

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A sessão chegou a um ponto alto, na metade da tarde desta quinta-feira, quando o promotor Marcelo Balzer interrogou um coronel da PM, responsável pelos policiais à época, sobre um telefonema trocado entre um operador da Central de Operações da PM (Copom) e um policial. No áudio, um PM diz que “mala tem que matar mesmo” e que no local “por enquanto, só tem um morto”. Ainda chamou a PM de corporativista.

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“Esse áudio não é dos policiais envolvidos diretamente no confronto. É de outra equipe, que foi depois em apoio. Esses promotores não conhecem o dia a dia dos policiais, as técnicas usadas por eles. Nós explicamos aqui no júri todas estas questões técnicas, as técnicas de confronto, distância de tiro, entre vários outros fatores que a promotoria não consegue visualizar por não conhecer a fundo. E esse áudio não desqualifica nossa defesa, que é a de legítima defesa dos policiais no confronto e vamos absolvê-los”, afirmou o advogado Gustavo Hassumi, da banca que defende os militares.

Mesmo assim, o advogado classificou o áudio vergonhoso para qualquer policial militar e sugeriu que ele seja extraído deste processo do triplo homicídio, para que ganhe uma sindicância própria dentro da Polícia Militar. Sugere ainda que o policial seja identificado e punido pelo que falou, mas ressaltando que o policial que falou aquilo no áudio não tinha envolvimento direto com o triplo homicídio e que era de uma equipe que foi apenas dar apoio posterior à ocorrência.

Sobre o homicídio, o advogado afirma que os meninos correram para dentro do matagal, quando viram a viatura se aproximando e que já escondidos receberam os policiais a tiros. Por isto foram mortos no revide.

Justiça

Fátima, mãe de Pedro, diz que seu filho e os amigos estavam no lugar errado, na hora errada. “É simples você pegar três ali na rua, levar, matar e dizer que foi confronto. Eles nunca usaram armas. Meu filho era medroso, nunca usou arma, nem de brinquedo”, afirma a mãe.

Isabele, a irmã mais nova, conta que os meninos gostavam de sair a noite para beberem juntos. Mas faziam isso pelas praças da vila, ou na casa de alguém. “Nem em festa gostavam de ir. Preferiam estar juntos conversando. Nenhum deles era envolvido com drogas, armas. Sequer tinham passagem pela polícia”, disse Isabele. Na visão dela, as acusações feitas contra os três meninos mortos são muito vazias e a promotoria estava conseguindo mostrar a culpabilidade dos policiais.

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“Eles têm que pagar pelo o que fizeram. Não é porque é polícia, que vão sair matando o filho dos outros, pessoas inocentes. E os verdadeiros bandidos sumiram. Cadê eles, porque não foram atrás? E depois, se prenderam os meninos lá na praça, porque não colocaram no camburão e levaram para a delegacia? Olha, se não condenarem estes policiais hoje, eu não acredito mais na Justiça”, disse Fátima, chocada porque pela primeira vez, no júri, viu as fotos dos meninos mortos no meio do mato.

A Tribuna do Paraná tentou conversar com os familiares dos outros jovens, mas eles preferiram se resguardar, visto que estavam muito abalados emocionalmente pelo que viram e ouviram no julgamento.

Horas antes do encerramento do júri, mãe de um dos jovens mortos acreditava na condenação dos PMs, assista: