“Não nos sentimos seguros. E também não temos respaldo algum”, este é um desabafo de um dos motoristas de aplicativos que participou da manifestação na manhã desta segunda-feira (22). O homem, preferiu não se identificar, protestava, junto com um grupo de trabalhadores, pela morte de dois motoristas neste final de semana, um em Almirante Tamandaré e o outro em Colombo, cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

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Segundo os motoristas, trabalhar com os aplicativos se tornou uma atividade de risco por vários motivos, mas o principal deles vem da falta de informação por parte das empresas. “De todos os apps, o único que nos avisa, por exemplo, que estamos indo para uma área de risco é o 99POP. Os outros todos não avisam e alguns, como o Uber, ainda descontam da gente se cancelarmos a corrida”, explicou o motorista.

“Algo precisa ser feito por parte das empresas”, diz Anderson. Foto: Gerson Klaina

Depois da morte de Felipe Milki, de 34 anos, que foi encontrado na Rua Nápoles, no Atuba, em Colombo, na noite de sábado (20), quem atua nessa área começou a ficar com mais medo ainda.

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“O que nós precisávamos é que recebêssemos não só um e-mail automático ou uma resposta padrão. Estamos sentindo de perto a falta de segurança que estes aplicativos nos expõem e algo precisa ser feito por parte das empresas”, comentou Anderson Carvalho, de 38 anos.

O homem, que trabalha para o Uber e também para o 99pop há sete meses, contou que nunca foi assaltado, mas passou por apuros. “Escapei por pouco. Mas a maioria dos motoristas tem continuado porque a união entre a gente é o que tem feito ainda termos coragem, porque as empresas não pensam em quem está trabalhando”.

Tensão

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Felipe foi enterrado na manhã desta segunda-feira, no Cemitério do Boqueirão, junto com o protesto dos colegas de trabalho. O que lhes assusta é que, em pouco mais de 24h, este foi o segundo motorista de aplicativos morto na RMC.

Na sexta-feira (19), Marcos Mathozo Cordeiro, 25, foi acionado para uma corrida em Almirante Tamandaré e o trajeto foi seu ultimo percurso antes da morte. O rapaz foi assassinado com seis tiros, três deles na cabeça.

O rapaz trabalhava para o Uber e carro dele, um JAC J5, foi encontrado dentro do lago do Parque Tingui. Segundo os investigadores da Delegacia de Almirante Tamandaré, ainda não é possível definir a motivação do crime, mas a suspeita é de que o assassinato tenha relações passionais.

No escuro

Segundo os motoristas, exceto a 99pop, nenhuma das empresas lhes dá pelo menos a possibilidade de negar a corrida, caso desconfie do risco.

“Aí ficamos reféns do nosso próprio trabalho, porque sabemos que se cancelarmos, além de termos isso descontado, ainda seremos punidos. Em alguns casos, ficamos sem poder trabalhar por até um dia”, explicou Flavius, de 39, que atua como motorista de aplicativos há mais de um ano.

“Ficamos reféns do nosso próprio trabalho, porque sabemos que se cancelarmos (uma corrida) seremos punidos”, afirmou Flavius. Foto: Gerson Klaina.

O motorista, que preferiu não ter seu sobrenome divulgado, faz parte de uma associação de motoristas de aplicativos, que tem mantido contato direto com os trabalhadores. “Nós só precisamos de segurança. E é em busca disso que vamos continuar protestando”.

Pedido aos passageiros

Os motoristas pediram, ainda, que os passageiros os ajudem na questão da segurança. “Não façam pedidos de corridas para outras pessoas ou pelo menos se atentem a quem você está pedindo a corrida. Se alguém chegar e dizer que está sem bateria no celular, por exemplo, não faça o pedido, ainda mais se não conhecer”, alertou Flavius.

O alerta, segundo o motorista, vale principalmente no caso dos próprios usuários. “Porque se algo acontecer, quem pediu é que vai ser a primeira pessoa a ser investigada. Ou seja, você pode acabar se sujando por causa de alguém que você nem sabe quem é”, explicou. A dica é pedir corrida somente para si mesmo ou, caso seja mesmo necessário, somente para familiares.

Novos protestos

Além da manifestação pela manhã, ainda nesta segunda-feira, um novo ato está marcado. A ideia dos condutores é aproveitar um evento organizado pela Uber, no Teatro Positivo, para premiar seus melhores parceiros, para pedir medidas mais efetivas contra novas tragédias.

Os motoristas vão se reunir, da mesma forma que fizeram pela manhã, e vão em carreata até o local do evento, chamado de UberFest. Como vai ser uma premiação, os trabalhadores acreditam que responsáveis pela diretoria da empresa vão estar no teatro e, por isso, planejaram a manifestação. A intenção dos motoristas é de que sejam, pelo menos, ouvidos.

Para terça-feira (23), na Assembleia Legislativa do Paraná, outra manifestação também está marcada. “Vamos cobrar do Estado que coloque mais efetivo da Polícia Militar nas ruas, pois sabemos que eles têm feito o que podem”.

Foto: Gerson Klaina.