Momento propício

Presos aproveitam período de festas pra colocar em prática planos de fuga

As fugas registradas nos dois últimos dias de 2017 não foram orquestradas, mas os bandidos sabiam que o período era um momento propício para agir. A afirmação é do presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná (Adepol-PR), João Ricardo Képes Noronha. Em quatro ações, três delas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), 67 presos ganharam as ruas.

O motivo, segundo o presidente da Adepol, é o baixo efetivo do plantão, somado ao desempenho de uma atividade que não cabe ao policial. “Já cansamos de dizer que policial civil não está nas delegacias para cuidar dos presos. Estes policiais sequer recebem treinamento pra isso. Já era esperado”, desabafou João Noronha.

As fugas, conforme avaliação do representante dos delegados do Paraná, representam a omissão do Estado. “Estamos vivendo o caos na segurança pública, numa causa extremamente grave que é manter os presos nas delegacias”, disse Noronha, destacando que o Paraná é um dos últimos estados a insistir em manter os presos nas delegacias. “Isso é um erro. Porque, quando eles fogem, como dessa vez, toda a despesa, da prisão à condenação, acaba sendo em vão”.

Além do medo de trabalhar cuidando de presos e desempenhar uma função que não lhes cabe, os policiais civis têm encarado também o desanimo. “A sociedade perde, pois estes marginais voltam às ruas, e os policiais se desestimulam em seguir em frente, pois já não conseguem realizar suas verdadeiras funções”.

Fácil fugir

O que aconteceu nestes últimos dias, de acordo com João Noronha, pode ser apenas o começo do que está por vir. “Os presos já sabem que s delegacias não têm segurança nenhuma. Além disso, sabem que, cuidando deles, está apenas um policial. A bomba-relógio pode explodir a qualquer momento e, infelizmente, não conseguimos nem imaginar o resultado disso”.

Além da segurança das unidades policiais que se tornaram mini presídios, outro ponto questionável sobre manter os detentos nas delegacias é também as condições em que se encontram os prédios destas unidades. “Que, certamente, não suprem nem as necessidades básicas dos policiais, quem dirá para abrigar os presos. Isso fragiliza ainda mais para todos os lados”.

Em uma das fugas, no domingo (31), os presos do 11.º Distrito Policial (DP), na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), usaram o mesmo túnel cavado para outra fuga, há duas semanas. O buraco, que deveria ter sido fechado, ainda estava aberto. “Isso demonstra a verdadeira omissão do Estado, que não repassou à delegacia a verba para despesas emergenciais. Neste caso, o buraco só seria fechado se o delegado e os policiais tivessem usado dinheiro do bolso”.

Construção mentirosa

O presidente da Adepol afirmou que o Estado mente quando afirma que está construindo novos presídios para abrir vagas e retirar os presos das delegacias. “Essas obras só acontecem na cabeça de quem quer acreditar. O Estado está mentindo para a população, enquanto tampa o sol com a peneira”.

A Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR), por sua vez, defende que estão cientes do problema de superlotação nas carceragens das delegacias e que a solução são as obras, que vão abrir mais de 7 mil novas vagas. Apesar disso, das 14 obras, apenas duas estão em andamento: no Centro de Integração Social (CIS) de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que vão trazer mais 216 vagas, e a da Cadeia Pública de Campo Mourão, que promete mais 382 vagas. Ambas devem ficar prontas no começo do ano, enquanto as outras 12 obras, conforme a Sesp, ainda vão começar.

Apostando na tecnologia

Uma alternativa da Sesp para o problema tem sido a adoção das tornozeleiras eletrônicas para àqueles presos que cometeram crimes de menor potencial ofensivo. O número de presos, monitorados pelo Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), subiu de 500 – no início de 2015 – para mais de 6 mil em 2017.

Números das fugas entre os dias 30 e 31

Almirante Tamandaré: 7 presos fugiram
11º Distrito Policial: 26 presos fugiram
8ª Distrito Policial: 17 presos fugiram
Prudentópolis: 17 presos fugiram

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