Família da Grande Curitiba contesta versão de confronto com a PM

Uma família de Fazenda Rio Grande está contestando uma versão apresentada pela Polícia Militar, de que uma das pessoas da família foi baleada num confronto com policiais no último sábado (19). Na versão da PM, o mestre de obras Pedro de Oliveira, 38 anos, teria confrontado com os policiais depois de atropelar uma pessoa e tentar fugir do local com um Voyage. Já a esposa de Pedro, a auxiliar de serviços gerais Edina dos Santos, 40 anos, refuta a versão de confronto, afirma que ninguém tem arma na residência e diz que o marido sequer esteve dentro do Voyage no dia dos fatos. Pedro permanece internado no hospital, por causa do tiro que levou no rosto.

A versão inicial apresentada pela Polícia Militar, no sábado pela manhã, era a de que Pedro estava no Voyage com um passageiro e teria atropelado um indivíduo na rua. Logo depois, os dois teriam tentado fugir do local. Segundo a PM, ao ser localizado, o condutor teria trocado tiros com policiais militares e teria sido baleado de raspão no rosto. O outro homem, que também estava dentro do carro, teria fugido sem ser localizado. E um terceiro homem, também ferido na confusão, teria sido levado para a delegacia de Fazenda Rio Grande.

Não foi assim

Edina procurou a Tribuna esta semana, para afirmar que a versão da PM não é verdadeira. Segundo ela, Pedro teria sido atingido com um tiro no rosto quando estava dentro de casa, ao tentar proteger um dos três filhos do casal de uma ação equivocada da polícia. A ocorrência foi na Rua Nossa Senhora do Rosário, no bairro Santa Terezinha, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), por volta das 1h40.

“Meu marido não tem arma, minha família não tem revólver. Como ele poderia ter trocado tiros com a polícia?”, questiona a esposa. Segundo a mulher, ela e o marido estavam dormindo desde às 23h de sexta-feira (18), após o término de um churrasco em família, quando foram acordados por familiares perto das 2h da madrugada de sábado. O motivo seria a necessidade de separar uma briga entre um sobrinho de Edina e um dos três filhos dela.

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“Acordamos, eu e meu marido e saímos na rua. Era meu sobrinho que estava no Voyage e tinha acabado de atropelar meu filho por causa da briga. Na confusão, nós mesmos chamamos a polícia que estava passando por ali”, explica.

A esposa diz que os policiais vieram para o local e confundiram um dos três filhos como sendo suspeito pelo atropelamento. Esse filho tinha vindo para casa naquela hora, dirigindo um veículo Gol branco, portanto, não havia presenciado a briga em família. “Esse meu filho que estava no Gol entrou correndo para dentro de casa e os policiais foram atrás dele. Meu marido também correu para casa para impedir que os policiais fizessem alguma coisa contra ele, contra a pessoa errada. Nisso, eu ainda estava na rua acudindo meu filho atropelado e ouvi um tiro dentro da minha casa. Meu marido tinha sido baleado. Só que não foi um confronto que aconteceu, como eles estão dizendo”, conta. O sobrinho que dirigia o Voyage não estava mais no local.

Hospital e delegacia

A ocorrência terminou com dois filhos de Edina presos (o que entrou correndo em casa e um que já estava lá dentro), um filho atropelado e internado no Hospital do Trabalhador com a bacia fraturada e o marido internado na UTI do Hospital Evangélico Mackenzie. “Nos causa revolta ver que a versão da polícia é bem diferente do que aconteceu de verdade”, desabafa.

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Até ontem, Pedro de Oliveira ainda estava em estado grave no Hospital Evangélico. Ele se recupera lentamente, porém, perdeu o olho direito. O sobrinho, que seria o verdadeiro responsável pelo atropelamento e dado início a toda a confusão, já teria sido identificado pela polícia e, segundo Edina, iria se apresentar na delegacia ainda nesta semana.

Polícia Civil

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil não confirmou se já tem ou não a versão apresentada por Edina à Tribuna. Apenas informou que as investigações do caso já estão em andamento, mas no momento não há novidades que possam ser divulgadas.

Polícia Militar

A Tribuna procurou a Polícia Militar, para que esclarecer se houve ou não um confronto. E descobriu que a própria instituição deu duas versões diferentes para a situação. Conforme a assessoria de imprensa da corporação, no sábado pela manhã, quando a reportagem procurou a PM, a informação inicial era a de confronto. Mas, nesta quinta-feira (24), a PM já informou que a finalização do boletim de ocorrência, ocorrida ao longo do sábado, ficou diferente da inicial. O boletim, descrito inicialmente como situação de disparo de arma de fogo, terminou como desobediência.

Segundo a descrição final da ocorrência, quando a polícia entrou na residência da família iniciou-se uma confusão generalizada, envolvendo cerca de 10 pessoas. No que era para ser uma abordagem de rotina, teria aparecido um homem armado com uma faca e várias pessoas começaram a “pular” em cima de um dos policiais. Uma destas pessoas teria tomado a arma do policial. O outro PM, vendo a situação, atirou para defender o colega e fazer com que as pessoas saíssem de cima dele. O tiro, porém, acertou Pedro, supostamente o homem que tomou a arma do PM.

Corregedoria

A assessoria de imprensa da instituição afirma que é praxe, em todas as ocorrências em que os equipamentos de serviço são utilizados, abrir-se um inquérito técnico para ver qual foi o uso do equipamento (neste caso, a arma), quantos disparos foram dados, quantas munições foram usadas, se o equipamento foi usado corretamente, etc.

Já no caso de a população não se sentir satisfeita com alguma conduta de policiais ou da instituição, diz a PM, elas devem procurar a Corregedoria da instituição ou qualquer batalhão para formalizar uma queixa ou denúncia. A informação inicial é analisada e abre-se um procedimento administrativo, que pode ser um inquérito policial militar (IPM), uma sindicância, ou outro tipo de ferramenta investigativa.