Quando começou a agir, um ex-gerente geral do Banco do Brasil de Curitiba não imaginava que seria descoberto. Mas o esquema, que segundo a polícia desviou mais de R$ 10 milhões em dois anos, era mal feito e o próprio banco percebeu. A denúncia desencadeou a operação “Sangria“, que resultou na prisão do ex-gerente, que levou para a cadeia também outras quatro pessoas.
Além do ex-gerente – que tinha um salário de aproximadamente R$ 20 mil –, a Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) de Curitiba levou para a cadeia também um contador e empresários. Dos sete mandados de prisão, duas pessoas, uma delas um empresário do Paraná e a outra um empresário de Goiás, ainda não foram encontradas.
Ao todo, além do Paraná e Goiás, a Polícia Civil cumpriu os 52 mandados – de condução coercitiva, de arresto (visando a garantia de futura execução judicial), busca e apreensão e bloqueios de contas bancárias – também em São Paulo e Brasília. A investigação da DFR levou mais de um ano e apontou que o ex-gerente era o responsável pelo esquema junto com o contador.
Como funcionava
Segundo a polícia, o contador era o braço direito do gerente-geral. Ele atuava abrindo contas bancárias, em alguns casos sem o conhecimento dos donos das empresas e com documentos falsos. “Em outras situações, pelo menos algum dos sócios sabia do esquema e participava”, disse o delegado Matheus Laiola.
Os dados bancários eram passados ao ex-gerente, que fazia empréstimos financeiros e antecipações de títulos. Todo o procedimento era feito de dentro de uma agência do Banco do Brasil que fica na Rua Comendador Araújo, em Curitiba. “Foi aí que o banco começou a desconfiar, pois além do desvio, percebeu que contas de empresas de fora do Paraná eram abertas aqui e isso levantou suspeitas”, explicou.
Conforme as investigações, os recursos eram transferidos para contas de empresas envolvidas com a quadrilha. Os policiais descobriram mais pistas sobre a atuação do grupo, depois que chegaram ao contador e viram que ele trabalhava para as sete empresas investigadas. “Era um esquema complexo, não tão simples de se entender, mas que podemos garantir que se formou de maneira estável e permanente para lesar o banco”.
Todos presos
O contador e o ex-gerente foram presos junto com os sócios que tinham envolvimento no esquema. “Já os outros sócios, das empresas que não tiveram envolvimento, foram ouvidos. Num desses casos, ainda tivemos uma tentativa de suborno do contador, que ofereceu R$ 50 mil para um dos sócios, na tentativa de que ele mudasse a versão dos fatos”, contou o delegado.
A prisão de todos os envolvidos é temporária, válida por cinco dias, mas a Polícia Civil deve fazer agora o pedido de conversão em preventiva. Os detidos vão responderão pelos crimes de peculato (desvio de dinheiro público), falsificação de documento público e particular, expedição de duplicatas simuladas, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Por meio de nota, o Banco do Brasil informou que “após identificar indícios de irregularidades, concluiu investigações da Auditoria Interna, que resultaram na demissão por justa causa de um funcionário, em junho de 2016, e na apresentação de notícia crime à polícia”. O banco também informou que vai continuar colaborando com as investigações, para que todos os fatos sejam esclarecidos.