“Ela é um demônio, mas consegue enganar os pais e se passa por anjo”, assim definiu a mãe de um menino que foi agredido pela diretora de uma escola do Água Verde, alvo de denúncia de maus tratos nesta semana. O caso envolvendo a criança, que hoje tem 12 anos, aconteceu em 2011 e foi amplamente denunciado pela mãe, que buscou a Justiça para fazer com que a mulher fosse culpada. “Mas ela foi inocentada porque o juiz entendeu que não tinha prova suficiente”, desabafou a mulher.
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Preferindo não se identificar, a mãe contou detalhes sobre tudo o que aconteceu com seu filho, que na época tinha quatro anos. “Ele reclamava de muita dor na cabeça, mas não entendíamos o que acontecia, até que um dia ficou sozinho com a irmã mais velha e acabou contando o que estava acontecendo”.
Segundo a mulher, o filho dela sofreu agressões físicas, que foram registradas. “Batiam muito nele, inclusive na cabeça, onde ele sentia dor. Além disso, negavam comida, não davam. Deixavam de castigo muitas vezes”, denunciou a mãe.
Na época, quando conheceu a escola, a mulher optou por colocar o filho lá pois dois fatores lhe chamaram a atenção: “Era uma escola cercada por câmeras de segurança e ela se mostrava uma pessoa muito amável. Imediatamente ganhou meu filho, que ficou encantado com a forma que nos recebeu, mas mal sabíamos que as câmeras que tinham lá seriam importantíssimas anos mais tarde e que essa doçura dela na verdade era tudo falso, para nos convencer a deixar nossas crianças lá, por dinheiro”, desabafou.
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Conforme a mãe, tudo o que fizeram com o filho dela foi registrado por câmeras de segurança da escola. “Na época eu pedi as imagens a ela, mas ela se negou a passar, dizendo que demoraria um tempo. Mas a polícia foi atrás e conseguiu recolher tudo. Vi as imagens e incluímos tudo no processo, inclusive imagens cansativas, pois eram de um longo período”.
Na época da denúncia, o processo correu e a polícia trabalhou da forma que deveria trabalhar. “Mas depois, quando a questão foi para a Justiça, essa mulher conseguiu envolver os pais. Ela fez uma verdadeira teia e teve testemunha de muitos pais que a defendiam. Enquanto isso, eu só tinha as provas que, para mim e para quem visse, eram mais que suficientes, mas ainda assim não houve condenação”.
O processo que julgou a diretora da escola e também outra professora que foi incluída na denuncia, finalizou em 2014. Mesmo com as imagens, um laudo das psicólogas do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) e evidências de que tudo aconteceu, nada foi suficiente. “Ainda assim o juiz João Henrique Coelho Ortolano, que era da 12ª Vara da Infância, que cuidava de crimes de criança na época, a absolveu. Depois, recorremos ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que abonou e confirmou a absolvição delas. Além de tudo isso, o Ministério Público do Paraná foi omisso”, desabafou a mãe.
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O juiz que decidiu por absolver a diretora na época, hoje já não atua mais na Vara da Infância. Segundo a mãe, o caso dela foi um dos últimos que ele julgou e ela o questionou ainda mais. “Ele voltou para a terra dele, que é Londrina. O que eu queria perguntar é como ele está dormindo agora? Ele se sente bem por ter sido um dos responsáveis por não culpar uma pessoa que prejudicou a formação de uma criança? E essas mães, que serviram de capacho para ela, defenderam essa mulher, se sentem bem também?”.
Deveria ter uma câmara exclusiva para julgar crimes contra crianças e idosos, porque aqui no Paraná tudo recai em quem julga crimes comuns. Para eles, isso não foi nada, por isso que o julgamento foi dessa forma. Não foi crime para ele, não foi grave.
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Trauma ficou
O menino, que hoje já entende ainda mais o que aconteceu com ele, ainda sofre com tudo o que passou. Segundo a mãe, que no Água Verde, próximo à escola do fato, a família sequer pode passar perto da “escola do mal”, como adjetivou a criança. “Ele se refere à escola dessa forma. Se porventura passamos perto da escola, ele entra em pânico. Adquiriu problemas até mesmo de alimentação”.
Segundo o a mãe, com o tempo, as feridas físicas sararam. “Mas os danos psicológicos não. E eu tenho certeza que vão ser para sempre, pois prejudicaram muito meu filho. Ele precisou de tratamento psiquiátrico, com remédios fortíssimos, psicóloga e até hoje ele sofre com isso. Mas quem fez, foi absolvido”.
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Justiça virá?
A mãe enxerga a Justiça com descrédito. Para ela, mesmo que agora tenham muitas testemunhas, muitas outras denúncias e, mais uma vez, a comprovação de que tudo continuou acontecendo desde 2011, a diretora pode sair impune mais uma vez. “Ela é dissimulada e eu não duvido que saia livre mais uma vez. Tem o dom de convencer as pessoas, ,ostra uma credibilidade que ela sequer tem. Mas nós não vamos desistir”.
A mulher, que já procurou o Nucria novamente, disse que seu advogado vai solicitar uma cópia das imagens, que estão arquivadas com a Justiça. “Se conseguirmos, quero até divulgar essas imagens. Embora sejam cansativas de ver, precisam ser vistas, pois mostram o que aconteceu. Além disso, também já estamos em conversa com a Polícia Civil para que eu seja testemunha de acusação, afinal de contas, se antes eu não tive apoio de ninguém, hoje eu quero dar apoio a todas as mães que vão precisar”, considerou a mãe, afirmando ainda que, se possível for, quer também reabrir o caso de seu filho.
Sobre a denúncia da mãe, a Polícia Civil ainda não se manifestou. Apesar disso, o delegado José Barreto, titular do Nucria, pediu que os pais tenham tranquilidade porque a polícia está lidando com firmeza com o assunto. “E, por mais que ela acredite ser ‘normal’ o que ela fez, se existem leis. Se ela infringiu a lei, vai responder por isso”.
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