A informação pode assustar se você parar para pensar que corre tanto risco quanto o outro lado dessa notícia. Motoristas de caminhão são investigados pela Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) por usarem cocaína para circularem pelas estradas do país. Nesta quarta-feira (24), uma quadrilha responsável pela distribuição e venda da droga foi desmantelada e pelo menos 10 pessoas foram presas.
Além dos mandados de prisão, foram cumpridos também 12 mandados de busca e apreensão na “Operação Têmis”. A Denarc apreendeu sete armas, dois quilos de cocaína, 100 munições e cinco balanças de precisão. Também foram encontrados cerca de R$ 100 mil e oito veículos usados pelos bandidos para a entrega das drogas.
Conforme a polícia, o comando da quadrilha era feito por Onéias Krupnitski, de 30 anos, de dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Segundo a Denarc, o bando prestava uma espécie de disque-droga atendendo somente aos caminhoneiros. A cocaína era entregue em postos de gasolina e até mesmo nos acostamentos das rodovias.
A investigação da Denarc começou há cinco meses e começou depois que os policiais descobriram que diversos caminhoneiros de várias partes do país passavam por Curitiba e tinham acesso a cocaína. O trabalho da Denarc aponta que a quadrilha chegava a vender de 70 a 100 buchas de cocaína por dia para os caminhoneiros. “Acreditamos que dos ‘clientes’ da quadrilha, 98% eram caminhoneiros. O bando arrecadava até R$ 10 mil por dia”, disse a delegada Camila Cecconello.
Além de Onéias, conhecido também como “Escobar” ou “Néinha”, a namorada dele, Mariane de Freitas Dubiela, 20 anos, uma universitária, era a responsável por executar as ordens do tráfico nas ruas. Parte do dinheiro arrecadado com a venda de droga era usado na construção de uma casa em Fazenda Rio Grande, na RMC, onde Mariane iria viver com o filho, conforme a polícia. Outra parte da arrecadação foi aplicada em uma casa de prostituição em São José dos Pinhais, na RMC, que foi comprada recentemente por um dos membros da quadrilha.
Caminhoneiros clientes
O telefone do disque-drogas, segundo a Daenarc, era passado de um caminhoneiro para o outro. “O atendimento era dividido em turnos e cada um recebia aproximadamente 15 ligações. Nós calculamos pelo menos 80 caminhoneiros de todo o país”, disse a delegada.
De acordo com as investigações, os caminhoneiros aproveitavam a passagem por Curitiba para encomendar quanto queriam de droga. “Telefonavam pedindo de uma a 10 buchas de cocaína. E a droga era sempre entregue em postos de combustíveis ou nos acostamentos das rodovias, nunca dentro da cidade”.
Além de Onéias e Mariane, foram presos também Sidnei Alexandre, o “Sidão”, 29; Maycon Willian Gongra, 25; Edilson Vicente, vulgo “Presunto”, 32; Gabriel da Rocha, 30; Jefferson Gongra, 28; Jorge Roberto Viebrantz, 29; Francis Felipe Bellei, 28; Anderson Luiz Cabrini, 50 e Diogenes Ribeiro Bueno, 32. Todos vão responder por tráfico de drogas, organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação para o tráfico. Alguns dos presos ainda vão ser indiciados por porte de arma e favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração sexual e também por manter estabelecimento que ocorra exploração sexual.
A suspeita da Denarc é de que donos ou funcionários de postos de combustíveis possam integrar a quadrilha. “Pelo menos percebemos que, de alguma forma, eles eram coniventes. Eles sabiam do que estava acontecendo. Investigamos agora se não existe ninguém envolvido”, explicou a delegada.
Crime ao volante
A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) dos caminhoneiros, que devem ser identificados com as investigações, vai ser caçada. Este, segundo a delegada, será o segundo passo das investigações, para evitar que estes caminhoneiros continuem ao volante, pois estão cometendo um crime.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), dirigir veículo sob influência de substância psicoativa é crime previsto no artigo 306 e é complementado pela Resolução 517, criada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Em vigor desde março deste ano, a resolução exige de motoristas de caminhões, ônibus e vans a apresentação de exames toxicológicos de larga janela de detecção, juntamente com os demais exames médicos obrigatórios, como condição para obter ou renovar a carteira de habilitação nas categorias C, D e E. O exame, feito em laboratórios credenciados pelo Denatran, custa, em média, R$ 300.
O uso da cocaína, conforme explica Sonia Inglat, advogada especialista em trânsito, pode levar o motorista a assumir comportamentos de risco. “Diminui, e muito, a concentração, a atenção e o tempo de reação, o que pode levar os motoristas a cometer atos no trânsito que muitas vezes acabam sendo fatais”.