Que transtorno!

Crime incomum causa prejuízo de R$ 1,6 milhão para Curitiba

Furto das centrais de controle dos sinaleiros causa um grande prejuízo aos cofres da prefeitura. Foto: Felipe Rosa.

Uma modalidade incomum de crime vem causando danos a Curitiba, piorando o trânsito em pontos críticos, colocando pedestres e motoristas em risco. Desde o início do ano, 41 controladores de semáforos foram furtados, acumulando prejuízo de R$ 1,6 milhão. Esse tipo de ação não é exclusividade da capital paranaense. Belo Horizonte e São Paulo também enfrentam o mesmo problema e com resultados bastante semelhantes. A administração apela para medidas que dificultem a ação dos criminosos, sem conseguir eliminar os receptadores do material roubado.

Quem pratica este tipo de crime busca fazer dinheiro com a venda do cobre para o mercado clandestino. O metal também é encontrado nos cabos de fiação elétrica e internet de residências e comércio, até então os alvos preferidos. A reportagem buscou dados junto à Polícia Civil para entender a dimensão desse crime em Curitiba, mas o delito é registrado como furto comum e se perde no mar de ocorrências.

O problema ganhou dimensão neste ano porque os alvos mudaram para equipamentos públicos de alto valor. O lucro com a venda do pouco cobre retirado da fiação dos controladores dos semáforos, que custam R$ 25 mil, é mínimo. Basta comparar o tamanho do rombo com a reposição destas peças, que totalizaram R$ 1,6 milhão neste ano, diante da quantidade de cobre furtado, somente 2.813 metros. A Superintendência Municipal de Trânsito (Setran) explicou que o valor do controlador é alto em decorrência da tecnologia agregada e não pelas peças que o compõem, que acabam sendo vendidas por valores irrisórios.

De acordo com a Setran, junho registrou o maior número de ataques, especialmente na Linha Verde, tornando o trânsito ainda mais caótico. Dos 27 controladores furtados naquele mês, 26 se encontravam na região entre os bairros Xaxim e Parolin. O caso mais recente aconteceu no Água Verde, no cruzamento da Rua Santa Catarina com Avenida dos Estados, na madrugada no dia 29 de junho. Próximo do local fica a Escola Municipal Desembargador Marçal Justen.

Um dia antes desta ocorrência, um homem de 47 anos foi preso pela Guarda Municipal suspeito de receptar material furtado de semáforos. “Ele comercializava as peças por um valor considerado bem pequeno, de acordo com a apuração das equipes“, apontou a Setran por meio da assessoria. Após o pagamento de fiança de R$ 3 mil ele foi liberado.

Ações para impedir os furtos

A Setran afirmou que realiza uma licitação para trocar os equipamentos da Linha Verde por tecnologia mais atual, que vai facilitar o monitoramento pelo Centro de Controle Operacional (CCO). Com a troca, os equipamentos poderão ser acompanhados em tempo real, junto com cerca de 72% dos semáforos da cidade que já são interligados ao sistema. A pasta não informou quanto tempo o processo vai levar.

Outra medida voltada para a região mais visada pelos criminosos é a instalação dos controladores numa altura superior ao padrão atual. O lado negativo é que manutenção desses equipamentos será muito mais lenta e difícil para os agentes da Setran. Para proteger a fiação, as caixas, que ficam na altura do solo, receberão uma cobertura de concreto.

O assunto também é uma das prioridades da Diretoria de Inteligência da Defesa Social, que buscou formar uma espécie de “força-tarefa”, com o auxílio de outras secretarias, além das polícias Civil e Militar, para prender os autores e identificar os receptadores. A Guarda Municipal mobilizou equipes para fazer rondas pela região mais atingida. As secretarias municipais do Urbanismo e do Meio Ambiente estão visitando pontos de recebimento de materiais recicláveis e ferros-velhos para orientar e fiscalizar os estabelecimentos.

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Estratégia semelhante foi usada no início do ano quando os alvos foram bustos de figuras públicas das praças da cidade. Na prática, a ação tomada pela Prefeitura no âmbito do Programa de Proteção do Patrimônio da Arte Escultural de Curitiba simplesmente tirou 13 obras de locais públicos. A Polícia civil não divulgou o resultado das investigações nos estabelecimentos suspeitos de adquirir o metal furtado das estátuas.

Outras capitais também sofrem com ação de ladrões

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou entre janeiro e junho deste ano 764 ocorrências de furto de componentes semafóricos na cidade de São Paulo, incluindo 290 em controladores. Neste período foram furtados aproximadamente 21 quilômetros de cabos. De acordo com os cálculos da CET, são gastos R$ 1 milhão por ano com a reposição deste material. A região central da capital paulista é o local com maior incidência desse tipo de ocorrência.

Para combater o vandalismo nos semáforos, a companhia paulista adotou medidas, como o alteamento dos controladores e a instalação de alarmes sonoros e fitas de aço para lacrar as portas dos controladores. “Além disso, a Companhia mantém conversas frequentes com a Secretaria da Segurança Pública, Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Civil Metropolitana para identificação e punição dos envolvidas nos atos”, divulgou por meio de nota.

Em Belo Horizonte o prejuízo causado com este tipo de crime de janeiro a maio foi de R$ 664 mil, último dado apurado pela Empresa de transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). Somente nos dois primeiros meses do ano, a cidade foi obrigada a repor 13.805 metros de cabos danificados por vandalismo, entre furtos, depredações e colisões, o que consumiu mais de R$ 83 mil. A capital mineira utiliza diferentes modelos de controladores, que em média custam pouco menos de R$ 22 mil.

Moradores de ruas e usuários de drogas são os principais responsáveis pelos crimes. “Mas também pensamos que pode haver quadrilhas específicas para esse tipo de delito”, completa o comunicado da BHTrans. Este material é vendido para ferros-velhos da região. Para evitar os prejuízos, a empresa pública desenvolveu um pacote de medidas. Entre elas estão: embutir toda fiação o máximo nos postes e braços, sem deixar cabo expostos, selar as caixas de passagens nas redes subterrânea e levantar a altura dos equipamentos. Em alguns locais estas ações têm sido positivas. Porém, “no âmbito da Polícia ainda não há resultado eficaz que pudessem ter surtido efeito na prática, ou seja, os furtos continuam sendo diários”.

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