A distribuição de cartazes de “boas-vindas” para policiais militares entre casas e estabelecimentos comerciais do bairro Água Verde, em Curitiba, tem causado polêmica. Idealizado pelo conselho de segurança da localidade, os banners começaram a ser compartilhados recentemente e identificam imóveis onde os PMs podem usar internet e banheiro, pedir água e café, além de receberem “apoio e amizade”. Se por um lado a intenção foi aproximar o efetivo da comunidade, por outro, há moradores que questionam a necessidade da ação por acreditarem que os trabalhos independem da disponibilidade desses serviços. Até mesmo a Polícia Militar ressaltou que o projeto é válido, mas que de forma alguma implica em privilégio de segurança.
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Os cartazes começaram a aparecer na fachada de restaurantes no início da semana passada. De acordo com o presidente do Conselho de Segurança do Água Verde, Paulo Roberto Goldbaum, a ideia já está se disseminando e, além de lojas e restaurantes, residências e condomínios já se mostraram abertos a participar da campanha.
Segundo ele, embora o reforço da segurança esteja no objetivo central, a proposta também é uma tentativa de mudar a percepção que muitos moradores têm da Polícia Militar (PM). “A visão que muita gente tem do policial é que ele é um profissional truculento, que muitas vezes age de má-fé e que ele não está tão preocupado com as questões. Mas é importante mudar isso. Quem não gosta de ser bem tratado?”, comenta Goldbaum.
O presidente do conselho defende que ações que viabilizam interação mais constante entre policiais e moradores locais vêm se tornando comum no exterior e que, geralmente, elas acabam resultando em segurança mais efetiva. “Existe hoje esse pensamento que é universal, em termos de segurança pública, que é você trazer mais prevenção com união da população com as autoridades. Quanto mais próximo da comunidade, mais aumenta o nível de cumplicidade dos policiais. Aí a responsabilidade aumenta também”, justifica.
Oferta desnecessária
Contudo, há quem acredite que não é bem assim. Alguns moradores, por exemplo, opinam que a oferta é desnecessária e temem que os cartazes acabem influenciando no trabalho da polícia no bairro. “Imagina se de repente acontece uma situação de eles não poderem ir a algum lugar que não tenha o tal do cartaz. Pode fazer diferença. Até porque o policial tem que fazer a segurança onde tem e onde não tem o cartaz”, defende um morador do bairro, que preferiu não se identificar.
Procurada, a Polícia Militar disse que encara como bem-vindas e válidas iniciativas da comunidade que contribuam com o bom trabalho policial, mas também acrescentou que a oferta dos serviços não vai alterar a rotina dos atendimentos na localidade. “É importante destacar que o fato de o comerciante oferecer estes serviços aos policiais não acarreta a responsabilidade e/ou obrigatoriedade de o policial permanecer naquele local de maneira diferenciada ou privilegiada. Pois, como já foi dito, todos os estabelecimentos já são e continuarão sendo atendidos de maneira igualitária pela Polícia Militar”, esclareceu, em nota, a PM.
Confusão no Capão Raso
Em maio, um policial militar foi preso em flagrante após tentar beber e comer de graça em uma lanchonete do Shopping Popular de Curitiba, no bairro Capão Raso. Segundo informações da administração do shopping, o agente já estaria afastado das funções. A Polícia Militar não confirmou a informação à época.
Em relações a questões como essa, a PM informou à reportagem que os policiais não devem pedir ou exigir nenhum tipo de cortesia. Caso o comerciante ou o morador ofereça algo, cada agente tem a liberdade de decidir se aceita ou não desde que não haja nenhum impedimento ético.
Leia na íntegra a nota enviada pela Polícia Militar
“A Polícia Militar do Paraná informa que toda iniciativa da comunidade que contribua com o bom trabalho policial é bem vinda, válida e agrega para a segurança de todos, desde que respeitados os direitos e deveres de cada um.
Neste caso específico, vale esclarecer que, independe da oferta de qualquer serviço ao policial militar, o policiamento já vem sendo feito no bairro pelo 12º Batalhão da PM de maneira igualitária no tratamento tanto com comerciantes, quanto com moradores e pessoas de outros bairros que circulam pelo local por algum motivo.
É importante destacar que o fato de o comerciante oferecer estes serviços aos policiais não acarreta a responsabilidade e/ou obrigatoriedade de o policial permanecer naquele local de maneira diferenciada ou privilegiada, pois, como já foi dito, todos os estabelecimentos já são e continuarão sendo atendidos de maneira igualitária pela Polícia Militar.
A PM atualmente trabalha com a diretriz de Policiamento comunitário e incentiva a aproximação dos policiais com a comunidade, desde que ambos os lados tenham o comportamento esperado pela comunidade, pelo Estado e pela lei.
Na área do bairro Água Verde a PM, por meio do 12º Batalhão, atua com o projeto PCOM (Policiamento Comunitário) cujo objetivo é visitar os comerciantes para verificar sobre questões de segurança, se estão registrando Boletim de Ocorrência quando são vítimas de crimes ou delitos, entre outros, com tratamento igualitário. Quando desta visita, por exemplo, não há impedimento de o policial utilizar rapidamente serviços oferecidos pelos comerciantes, assim como não há impedimento de ele utilizar banheiros a qualquer momento.
A internet wi fi também pode ser usada pelo PM caso ele necessite consultar algum dado oficial, nomes de pessoas no sistema, ou qualquer outra situação relacionada ao seu trabalho. Vale lembrar que os policiais trabalham fazendo patrulhamento e, portanto, podem permanecer nestes estabelecimentos apenas o tempo necessário, pois as ruas precisam ser policiadas.
Vale lembrar ainda que, independente de cartazes, a comunidade (não só de Curitiba, mas de todo Estado) tem sido parceira da PM e sempre quando os policias precisam de banheiro ou internet (para consultar alguém documento) ela disponibiliza. A comunidade entende o trabalho policial e auxilia sempre, portanto, isso já acontece.
A PM agradece a amizade e a colaboração de toda a comunidade paranaense, principalmente a respeito de denúncias de suspeitos e de informações que contribuem com o serviço policial, e incentiva a integração sadia.”