Acusado de simular o próprio sequestro para tentar arrancar dinheiro de sua mãe, um homem e outros quatro comparsas foram presos na última sexta-feira pelo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), da Polícia Civil. Após dois dias de investigação a polícia conseguiu elucidar o caso, identificou a quadrilha – entre eles um militar da Aeronáutica – e prendeu os envolvidos. Contudo, a Justiça soltou todos os envolvidos logo depois.
O delegado do Tigre, Cristiano Quintas, contou que logo que percebeu o desaparecimento do filho, a mãe começou a se preocupar. “Ele não apareceu para trabalhar numa sexta-feira e ela achou que ele poderia ter emendado com o final de semana por conta própria. Apesar disso, na terça-feira seguinte, ela começou a receber mensagens com fotos e ameaças dizendo que seu filho tinha sido sequestrado”, contou.
+ APP da Tribuna: as notícias de Curitiba e região e do trio de ferro com muita agilidade e sem pesar na memória do seu celular. Baixe agora e experimente!
Os supostos sequestradores diziam que o rapaz teria se envolvido com mulher de um bandido que pertencia a uma facção criminosa e pediam R$ 5 mil pelo resgate do rapaz. “E diziam que se a mãe não pagasse, ele seria morto”. Nas fotos, o suposto sequestrado aparecia com sinais de agressão e até mesmo com arma apontada para seu rosto. “Eles orientaram que ela não procurasse a polícia, mas ela fez o certo e foi até a gente”, alertou o delegado.
Trabalho de investigação
Como todo crime nunca é perfeito, os policiais já suspeitavam que a história estava estranha, mas ainda assim assumiram as investigações tratando o caso como verídico. “Lidamos como se fosse uma ameaça real, apesar dos indícios de que seria uma farsa. A partir de então, começamos a monitorar a situação e trouxemos a mãe da suposta vítima para nossa base, até mesmo para continuar acompanhando de perto”, detalhou Cristiano Quintas.
Segundo o delegado, depois de 48h de trabalho dos policiais, o local do suposto cativeiro foi encontrado. “Era uma oficina no bairro Atuba, em Curitiba, onde havia indícios de consumo de drogas. Invadimos e lá dentro encontramos os jovens, entre eles estava o suposto sequestrado”.
Farsa descoberta
Ao encontrarem todos os envolvidos juntos, inclusive o “próprio sequestrado”, os policiais confirmaram a suspeita de que o crime na verdade era uma farsa planejada para tirar dinheiro da mãe do rapaz. “Descobrimos que o sequestrado não estava sequestrado, e que fazia parte do esquema, das simulações. Encontramos até mesmo o local onde foram feitas as fotos em que simulavam o sequestro e que aparecia o rapaz machucado, com arma na boca”.
Conforme o delegado, as fotos foram armadas e o rapaz foi até maquiado. “Ele não tinha sido machucado, fizeram uma maquiagem para simular a agressão. Já a arma usada na foto, era de brinquedo. Com isso, encontramos provas evidentes de que armaram toda uma farsa”.
Segundo o policial, a mãe do rapaz que tinha sido ‘sequestrado’ no começo duvidou da história. “Ela não queria acreditar que o filho estivesse envolvido, mas diante das provas que conseguimos, ela se conformou e percebeu que o filho fazia parte da farsa. Mãe é mãe e acaba tendo certa compaixão, mas o que importa é que elucidamos o caso, que aparentemente era uma extorsão mediante sequestro, mas resgatamos a vítima e entregamos à família provando que era tudo falso”.
O valor pedido era baixo se comparado ao que costumam praticar os sequestradores, mas o delegado disse que essa situação tem sido comum. “Infelizmente tem ocorrido este tipo de crime, que são sequestros mais rápidos, com valores menores exigidos. Neste caso, o que conseguirem é lucro, mas se deram mal”.
Presos, só que não
Os cinco rapazes, com idades entre 19 e 22 anos, foram presos e encaminhados à sede da unidade de elite da Polícia Civil, que é especializada em sequestros e situações de crise. Conforme a polícia, nenhum deles tinha antecedente criminal. “Um dos presos, inclusive, era militar da aeronáutica que se envolveu nesse esquema criminoso. Nós já informamos às Forças Armadas da situação”, destacou o delegado.
Depois da prisão, os cinco passaram por uma audiência, que definiria se continuariam presos ou não, e foram soltos antes mesmo das 48h que os policiais levaram para desvendar o crime. “Para nossa surpresa, foram levados à audiência de custódia, mas foram liberados nessa audiência. Lamentamos que ficaram menos tempo presos do que nossa equipe ficou trabalhando”, contou, frustrado, o delegado. “Mas pelo menos nosso trabalho foi feito”.