Segurança pós-pan

Um dia depois de terminar o pan, voltaram a ocorrer encontros armados entre as forças de segurança e os traficantes no Rio. E balas perdidas.

O presidente Lula deu a boa notícia de que pelo menos 75% do aparato de segurança montado para atender o Rio nos dias do pan, policiais civis, militares e forças federais, serão mantidos. Também ficarão no Rio equipamentos de segurança e inteligência dos mais sofisticados. Isso, para não falar em equipamentos desportivos, ginásios e estádios que nem teria sentido desativar. Se não forem entregues às traças, poderão servir para transformar a Cidade Maravilhosa em um centro de excelência em esportes. E não há dúvida de que a prática de esportes é um dos caminhos para afastar crianças e jovens das ruas e da criminalidade, o que é indispensável para que o Rio venha a ser uma cidade onde seja possível viver com segurança e tranqüilidade.

Os aplausos merecidos por Lula em razão de dar ao Rio a parte mais importante do aparato que garantiu a paz durante os jogos não evitou que, mais uma vez, no final do pan, fosse ensaiada uma vaia dirigida ao presidente.

Não se trata de uma manifestação desejável, embora seja difícil coibi-la sem afogar na garganta de cariocas os gritos de revolta que vêm reprimindo há tanto tempo. Sua linda cidade foi transformada num confronto entre a opulência e a miséria, um amontoado de prédios de luxo cercado de favelas por todos os lados, ambiente onde a criminalidade encontra um fértil caldo de cultura. A esperança é de que a permanência de parte dos apetrechos que isolaram o pan dessa guerra urbana assegure dias futuros de mais paz. Ou, pelo menos, de menos violência.

?Se a gente for olhar o que aconteceu no pan – disse Lula – a gente poderia dizer que o Rio de Janeiro já ganhou a medalha de ouro pela organização, pela tranqüilidade com que se deu o pan, e o Rio de Janeiro vai ganhar agora a segunda medalha de ouro que é ficando com quase todo o aparato das coisas que foram montadas para que o pan pudesse ser realizado.? Acrescentou o presidente: ?Eu acredito que nós poderemos fazer um balanço sobre várias coisas que aconteceram no pan. A primeira coisa eu acho que foi a instalação dos centros esportivos. Ou seja, valeu a pena gastar o dinheiro que tinha que gastar, valeu a pena aplicar o que tinha que aplicar, fazer parceria com o governo do estado, com a Prefeitura Municipal, para que a gente pudesse mostrar ao mundo a capacidade que o Brasil tem de realizar uns jogos dessa magnitude. Ou seja, no fundo, isso credencia o Brasil para sediar a Copa do Mundo e credencia o Brasil para realizar uma olimpíada?.

Um posicionamento otimista depois de um empreendimento esportivo bem sucedido, que custou muito dinheiro, mas também muita admiração para com o nosso País.

Restam, entretanto, algumas dúvidas. Se o Brasil tinha capacidade de fazer tantos centros esportivos em tempo recorde e, frise-se, dos melhores do mundo, e isso poderá servir para um salto de educação e cultura para o seu povo, por que tão pouco ou quase nada foi feito antes? Se o arcabouço sofisticado de segurança montado para os dias do pan deram tranqüilidade ao povo carioca e a milhares de visitantes, e tivemos dinheiro para tudo isso, por que não foi feito antes? Quanto medo teria sido evitado e quantas vidas teriam sido preservadas.

O Brasil é um país capaz de viver na paz e na alegria. O que falta é motivação de suas autoridades para instrumentá-lo do necessário para isso. Quem sabe possamos inventar mais alguns pans, copas, olimpíadas, mesmo que não sejam os certames internacionais que podem vir ou não vir, independentemente da nossa vontade. O pan que acaba de ser realizado demonstrou que quando é para fazer vitrine para o mundo, temos potencial e capacidade. Vamos fazer alguma coisa para que, ao nos olharmos no espelho, também tenhamos uma imagem de paz e vitória.

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