Não há dúvida de que a maior preocupação do eleitorado é o desemprego. A solução do problema é a maior cobrança que se faz aos candidatos, em especial os postulantes à Presidência da República. O problema da segurança pública parece ser a segunda maior preocupação. E também aqui, a cobrança é feita em cima dos candidatos à sucessão de FHC. Pouco ou nada se pede dos candidatos a governador e quase nenhuma responsabilidade se atribui aos prefeitos. Talvez porque não ocorrerão, agora, eleições municipais. Pesquisa da Datafolha revelou que, em fevereiro, 32% dos consultados consideravam que o principal responsável pelo problema da segurança pública deve ser o presidente. Esse percentual subiu. Agora, 41% dos entrevistados consideram que ao chefe da nação cabe a solução do grave problema.
Isso explica por que, com maior ou menor ênfase, Lula, Serra, Ciro e Garotinho priorizam, em seus discursos, o tema segurança, todos prometendo chamar à Presidência da República mais e maiores responsabilidades. Isso dá votos.
Revela a pesquisa que entre os que responsabilizam o presidente da República, a maioria é de pessoas de baixa escolaridade e renda. Também revela que entre as camadas de maior renda, o problema segurança se eleva como objeto de suas preocupações. Explica-se: têm mais a perder.
Quer nos parecer que tudo isso é um equívoco e deveriam os candidatos, com maior ênfase e, se possível, de forma didática, apresentar seus projetos de segurança pública. É inegável que deve o governo federal cuidar do assunto, o que quer dizer o Poder Executivo encimado pelo presidente da República, o Poder Legislativo (Câmara dos Deputados e Senado), que faz as leis, e o Poder Judiciário, que julga. Imaginar que cabe ao presidente a solução do problema é uma absurda simplificação.
Entretanto, é verdade que deve haver maior presença do governo federal no combate à criminalidade, seja legislando através do Congresso, para que as leis deixem de ser tão frouxas no combate aos malfeitores; através do Judiciário, com estruturas e procedimentos que tornem mais céleres os julgamentos e intervenção direta do Executivo, quando se tratarem de crimes que possam ser considerados federais, ultrapassando as fronteiras estaduais em seu cometimento e conseqüências.
O contrabando de armas e o tráfico de drogas, associados, são responsáveis em grande parte pelo aumento da criminalidade e, em alguns estados, as quadrilhas praticantes desses delitos até chegam a formar verdadeiros poderes paralelos.
Há, pois, um papel do governo federal e não particularmente do presidente, na luta contra a criminalidade. E esse papel deve se alargar e ser exercido com maior diligência. No dia-a-dia, entretanto, a segurança era, é e deverá continuar sendo responsabilidade basicamente dos governos estaduais e de suas polícias. A territorialidade não é uma mera ficção. A proximidade desses governos com os marginais e locais da prática de crimes são suficientes para justificar que lhes atribuam o grosso da segurança pública. Não se há de imaginar que lá da longínqua Brasília, onde muitas autoridades sequer são capazes de apontar no mapa importantes municípios do interior brasileiro, se combata a criminalidade que acontece em todo o imenso território nacional. Aos municípios cabe um papel complementar, adequado às suas estruturas, mas nem por isso sem importância.