São Paulo (AE) – O PT vai necessariamente encolher nas próximas eleições. Se as urnas fossem abertas hoje, a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria impossível. O diagnóstico não é de nenhum oposicionista, mas do presidente interino do PT, Tarso Genro, que hoje (23) não encontrou argumentos para convencer o eleitorado a confiar na legenda. Tarso jogou a discussão sobre a reeleição de Lula para o fim do ano, mas ressaltou que, se depender dele, na hipótese de o PT lançar outro nome, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não será o candidato.
"O presidente decidir agora se deve concorrer à reeleição, ou não, poderia ser considerado pela oposição como provocação, ou pela base social como gesto precipitado", afirmou Tarso hoje, durante sabatina promovida pelo jornal ‘Folha de S. Paulo’. "Faço avaliação político-eleitoral, não moral sobre os fatos que estão assolando o PT e o governo. Hoje não sei se o presidente teria condições de se reeleger", disse o petista, mais tarde, interrompido por protestos de parte da platéia. Tarso insistiu e se explicou. "As pesquisas estão indicando que hoje isso (a reeleição) seria uma impossibilidade. A configuração política pode mudar para melhor e para pior. É imprevisível." Reservadamente, o presidente do PT defende que Lula abra mão da reeleição como forma de atenuar a crise política.
O presidente do PT citou alguns nomes como possíveis substitutos de Lula: o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda. Além de Palocci, excluiu o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e ele mesmo, embora com menos convicção: "Não está na minha agenda. Hoje eu descarto." Para Mercadante, a idéia de disputar a Presidência "não tem o menor cabimento". Deda saiu-se na mesma linha. "Meus sonhos estão mais próximos de Sergipe do que do Planalto. De qualquer forma, fico honrado com a lembrança. É uma prova de que Tarso tem fé no futuro."
Necessariamente, destacou Tarso, a política de alianças do PT em 2006 terá de ser diferente – menos pragmática, construída em cima de programa de governo – assim como o partido terá de apresentar um projeto "mais à esquerda" do que o executado atualmente.
Apesar de considerar as explicações de Palocci para as acusações de Rogério Buratti convincentes e positiva a "relativa" estabilidade da economia, Tarso disse que não apoiaria a candidatura do ministro porque não o vê capaz de promover a "transição" entre o atual modelo de desenvolvimento e um projeto em que o equilíbrio fiscal não seja "um fim em si mesmo" e sejam mais efetivas as ações à distribuição de renda.
Tarso fez questão de defender Lula em várias ocasiões. Repetiu que ele não sabia do esquema operado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, mas, referindo-se a José Dirceu, atestou que houve "delegação exagerada" do presidente. "Foi por isso que ele pediu desculpas à Nação", explicou Tarso, que ainda fez restrições à política de comunicação do governo e disse esperar um novo pronunciamento de Lula sobre a crise.
Ele atacou o antigo comando do partido, que levou a uma "simbiose" entre a legenda e o governo, e voltou a condicionar sua candidatura à reeleição, pelo Campo Majoritário, à mudanças na chapa. Em outras palavras, à saída de José Dirceu. O prazo que Tarso deu para resolver o assunto termina amanhã (24). Ele deu a entender que só poderá reunir argumentos para convencer os eleitores a votarem no PT se de fato o partido mudar. "Se não renovar de fato métodos internos", sentenciou Tarso, o PT corre o sério risco de se transformar num "partido amorfo e tradicional".
