Segundo números da OIT, aumento do PIB mundial não diminuiu o desemprego

Apesar de registrar um dos melhores períodos nos últimos 20 anos em termos de crescimento, a economia mundial não consegue traduzir essas taxas de aumento do PIB em criação suficiente de postos de trabalho. Números divulgados hoje pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que 2006 fechou com 195 2 milhões de pessoas em todo o mundo sem um emprego. A entidade ainda concluiu que, pela primeira vez na história, há mais trabalhadores no setor de serviços no mundo que na agricultura, o setor que mais empregava há séculos.

Segundo os cálculos da OIT, a boa notícia é que 2006 também registrou o maior número de pessoas trabalhando. Foram 2,9 bilhões, 1,6% a mais que em 2005 e 16% superior ao volume de 1996. Mas, diante de pressão demográfica, o índice de desemprego continuou praticamente inalterado, passando de 6,4% de desempregados em 2005 para 6,3% em 2006.

Em números absolutos, a quantidade de pessoas sem trabalho passou de 194,7 milhões em 2005 para 195,2 milhões em 2006, número considerado como o mais alto já registrado pela entidade desde que começou a calcular o número de desempregados na década de 90. Em 1996, esse número era de 161,4 milhões. Desde então, o ano com maior porcentual de desempregados foi o de 2002, quando 6,6% da população mundial não contou com trabalho.

Além dos fatores demográficos, a OIT estima que o crescimento econômico não foi suficientemente direcionado a setores que pudessem criar postos de trabalho. De acordo com José Salazar, diretor do Setor de Empregos da OIT, o crescimento da economia mundial tem se refletido em aumento dos níveis de produtividade, e não de emprego.

Em dez anos, enquanto o número de pessoas com empregos aumentou em 16%, a produtividade no mundo sofreu um incremento de 26%. "O crescimento não gerou redução do desemprego global", afirmou Juan Somavia, diretor-geral da OIT. Em 2005, o crescimento do PIB foi de 4,9%, chegando a 5,2% no ano passado.

O aumento do PIB mundial também não foi suficiente para tirar da pobreza 1,37 bilhão de pessoas que trabalham, mas não contam com salários para sair da miséria. Essas pessoas ganham menos de US$ 2 por dia. Ainda que o número de pessoas nessas condições tenha sido reduzido em 30 milhões nos últimos seis anos, a queda está longe de representar uma conquista. Hoje, 47,4% de todos os que trabalham no mundo não recebem salários superiores a US$ 2 por dia.

O que mais preocupa a entidade é que, mesmo com a estimativa de crescimento de 4,9% para a economia global em 2007, não há uma perspectiva de que isso irá gerar um aumento de empregos. Para complicar ainda mais a situação, economistas da OIT estimam que o período de crescimento da economia mundial está chegando ao fim, depois de cinco anos de aumento do PIB entre 4% e 5%. Se esse cenário for confirmado, a preocupação da OIT é de que o ritmo de crescimento do desemprego seja ainda maior até o final da década.

Para evitar essa situação, a OIT pede que governos adotem políticas setoriais para criar empregos e que implementem estratégias sociais mais claras, além de promover pequenas e médias empresas.

Entre as regiões, o pior índice é do Oriente Médio, com 12,2% de desempregados, seguido pela África com 9,8%. O que é mais grave é que 80% dos que trabalham na África ganham menos de US$ 2 por dia. De fato, o continente africano ganhou 14 milhões de novos trabalhadores recebendo menos de US$ 1 por dia entre 2001 e 2006. Já na Ásia, esse número foi reduzido em 65 milhões de pessoas nesse mesmo período.

O Leste da Ásia, com 3,6% de desempregados, é a região do mundo com menor índice do problema da falta de postos de trabalho, em grande parte graças ao desempenho da China, que conseguiu aliar o crescimento econômico à geração de novos postos de trabalho.

Já nos países ricos, o desemprego caiu de 7,8% em 1996 para 6,2% no ano passado. Entre 2005 e 2006, quem apresentou a maior redução de desempregados foi a União Européia, com queda de 0 6%.

Agricultura

Outra constatação da OIT é que, pela primeira vez, há mais gente trabalhando no setor de serviços que na agricultura, um fenômeno considerado como revolucionário. A constatação ocorre no mesmo ano em que há, também pela primeira vez, mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. Hoje, o setor de serviços responde por 40% dos empregos, contra 38,7% na agricultura e 21 3% na indústria.

Para a OIT, o setor de serviços poderá nos próximos anos empregar mais da metade dos trabalhadores mundiais. Isso não significa, porém, que terão melhores salários que em outros setores. No caso da América Latina, o setor de serviços já ultrapassou a agricultura há mais de dez anos. Hoje, 61% da população está no setor de serviços, contra 18,8% no campo. Só os países ricos, com 72% da população empregados em serviços, contam com uma taxa superior à da América Latina.

Segundo a OIT, os jovens ainda são os mais afetados pelo desemprego e correspondem a 44% das pessoas (86,3 milhões) sem trabalho. A OIT também destaca que os homens continuam tendo melhores empregos e renda que as mulheres.

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