As nomeações e posses do novo governo Lula ainda não terminaram. Para acomodar tantos aliados, o presidente tem se obrigado a criar novas pastas, até mesmo vazias, inventando atribuições para satisfazer a gula dos coligados. Mas já há uma guerra para a ocupação dos cargos menores, do segundo time, com novos-lulistas esfomeados peleando por vagas que possam significar bons empregos, posições convenientes e capazes de garantir esquemas que granjeiem votos e negócios. Conta-se que um integrante do PSB chegou à ousadia sem limites, batendo às portas do gabinete presidencial e levando ao presidente o receio de que se não for balanceada a distribuição de cargos nos postos secundários, azedariam as relações dos partidos do condomínio governamental.
Não existe preocupação com programas e muito menos com ideologias. Há a prevalência da ?lei de Gerson?, cada um tentando levar vantagem em tudo. Só não se pensa é nas desvantagens que tais procedimentos têm para o governo e para o povo que lhe cabe governar. Há grande preocupação com o que possa fazer o PMDB, o dono da maior parte do governo. Se o ex-maior partido do Ocidente e hoje ainda o maior partido do governo decidir praticar uma política de porteira fechada, ou seja, só entram peemedebistas nos seus ministérios, que são a maioria, vão faltar empregos para o resto da turma do resto dos partidos, inclusive do apequenado PT. Este tem sido enganado com o sofisma de que não tem muito a reivindicar em termos de ministérios e cargos de segundo ou terceiro escalões, pois já tem o presidente Lula, que é petista. Parece lógico, pudesse o presidente aplicar no exercício do cargo as diretrizes do partido ao qual está filiado, o que se afigura impossível num governo que é uma verdadeira salada partidária sem o tempero ideológico nem os ingredientes dos programas comuns.
O PSB está de olho no Ministério da Integração Nacional, pasta arrancada de um apadrinhado de Ciro Gomes, Pedro Brito, e entregue a Geddel Vieira, do PMDB da Bahia, que aliás trabalhou contra Lula enquanto a amálgama da sanha pelo poder não lograra ainda unir o peemedebismo. Sob o Ministério da Integração Nacional está uma porção de cargos nada desprezíveis e que se teme Geddel venha a ocupar com gente sua. São postos estratégicos para o Nordeste, onde o PSB elegeu três governadores: Eduardo Campos, de Pernambuco; Vilma Faria, do Rio Grande do Norte, e Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, do Ceará.
Ciro andou cortando cabeças nessas áreas no primeiro mandato de Lula. Vilma Faria está nervosa porque existe a perspectiva de que Geddel premie pessoas como Henrique Eduardo Alves, ligado ao PMDB e seu adversário político. No Ministério dos Transportes a briga continua. O PSB está sendo criticado pelo PR, ex-Partido Liberal, que se opõe à criação de uma Secretaria de Portos. Lula pensa no cargo para Pedro Brito, afilhado de Ciro Gomes. E aí vem o Porto de Santos, por exemplo, tido como feudo do mensaleiro Waldemar Costa Neto, do PR de São Paulo. O PSB também quer o controle das hidrovias, hoje geridas pelo DNIT com o mesmo zelo com que trata das nossas sofridas estradas.
Há brigas também na pasta da Saúde e as eternas disputas entre políticos e técnicos, aqueles quase sempre levando a melhor. Nada diferente no Ministério das Comunicações, do Turismo e onde quer que haja poder. Poder não para fazer alguma coisa palpável pelo povo, mas para montar corriolas políticas que façam troca-troca de favores, sejam eleitorais, sejam negociais.