Estudo divulgado hoje pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que as variações cambiais tiveram pouco impacto nos preços do mercado consumidor interno nos últimos anos. Conforme análise que levou em conta o período compreendido entre janeiro de 1998 e agosto de 2006, a instituição, que mede mensalmente o Índice do Custo de Vida (ICV) na capital paulista, constatou que, de maneira diferente da que é difundida, não houve uma "forte relação" entre as taxas de inflação e câmbio: enquanto o ICV apresentou maior estabilidade no período analisado, o câmbio oscilou mais fortemente.
Segundo o Dieese, o comportamento do ICV mostra, a partir de dezembro de 1998, taxa inflacionária anual pequena de 0,49%, para, um ano depois, como reflexo da grande desvalorização do real, subir ao índice acumulado de 9,58%. Apesar da aceleração mais acentuada, notou-se uma taxa inflacionária bem menos explosiva que as apresentadas pelo dólar. O Dieese citou um reajuste cambial de 52,89% no acumulado até dezembro, após picos em fevereiro (69,78%), março (67,31%) e outubro (65,73%).
Ao longo de 2000, enquanto as taxas anualizadas do câmbio oscilaram entre 20,09%, em janeiro, e -8,16%, em março, com uma média anual baixa, da ordem de 1,06%; a inflação anual permaneceu em um nível de 8,35%, comportamento que se repetiu até outubro de 2002, ano em que o dólar norte-americano deu diversas demonstrações de sobe-e-desce.
Exatamente após outubro de 2002, com a proximidade do pleito que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Dieese mencionou a única oportunidade em que os preços internos acusaram reajustes acentuados. Com as incertezas sobre a política econômica de Lula, o câmbio encerrou aquele ano com taxa acumulada expressiva de 53,47%. Depois de outubro de 2002, as taxas inflacionárias anuais mudam de patamar e atingem o pico em maio de 2003, com variação da ordem de 18,30%. A partir deste ponto, decresceram e fecharam aquele ano com 9,56% de inflação.
Na análise mais recente, no período de julho de 2003 a agosto de 2006, portanto 37 meses, somente em três deles – maio (4,89%), junho (8,53%) e julho de 2004 (5,45%) – as taxas anualizadas do câmbio foram positivas. Nos demais meses, apresentaram valores negativos, mas estas quedas não se deram de forma constante. No segundo semestre de 2003, o seu patamar situava-se em -13,83%; em 2004, a redução se manteve, mas em nível menor, ou seja, de -4,72%; nos anos de 2005 (-16,90%); e, em 2006, a queda, de 13 21%, continua bastante acentuada.
Do lado inflacionário, o estudo do Dieese constatou que, em 2004 e 2005, o nível do custo de vida diminui para taxas médias de 6 54% e 6,45%, respectivamente. Em 2006, constata-se nova baixa na média inflacionária, que em agosto chegou a 2,80% de taxa anual.
Desta maneira, o estudo do Dieese permite a constatação que verificou-se taxas anualizadas do ICV com longos períodos estáveis desde 1998. As mudanças nos níveis inflacionários foram feitas de uma maneira mais suave e constante, quando comparadas ao comportamento cambial, que foi marcado por variações marcantes e freqüentes ao longo de todo o período. Segundo a instituição, uma política cambial com vistas à desvalorização do real frente ao dólar provavelmente pouco afetará o atual patamar inflacionário.