Segredo de Estado

Parece que está chegando ao fim um dos mais longos períodos de governo do planeta, com a retirada de cena do ditador cubano Fidel Castro, que completa 80 anos no próximo dia 13. Uma cirurgia nos intestinos o obrigou a passar a chefia do governo – pela primeira vez em quase meio século – a seu substituto imediato, o irmão Raúl Castro, 75 anos, ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas.

O internamento de Fidel Castro num hospital de Havana foi imediatamente comemorado pelos milhares de cubanos expatriados que vivem na vizinha Flórida, com gritos, buzinaços e danças nas ruas de várias cidades, numa demonstração próxima ao escárnio e à histeria coletiva. Afinal, o longevo governante sucumbe às inflexíveis leis da biologia, mas, apesar do ódio que despertou em muita gente expulsa ou fugitiva do país, não há razões para justificar a visível manifestação de descontrole emocional.

Como a zombar de seus detratores e a intuir que haveria regozijo por sua doença, Fidel expediu um comunicado depois da operação, afirmando que ?minha saúde é um segredo de Estado que não pode ser divulgado constantemente e os compatriotas devem compreender?. Este é o Fidel real que governou Cuba por quase 50 anos, resistindo ao bloqueio imposto pelo governo norte-americano e quase à míngua com a suspensão do apoio financeiro e tecnológico da extinta União Soviética.

Os exilados cubanos na Espanha e em outros países europeus foram mais cautelosos, embora não deixassem de pleitear a redemocratização gradual e pacífica do sistema de governo. Na verdade, o procedimento de homens e mulheres comprometidos com a causa democrática deve se estribar numa atuação marcada pela tolerância e o desarmamento dos espíritos, sobretudo em momento tão conturbado quanto o que está sendo vivido pelo mundo.

Um líder de movimentos de exilados na Espanha, Carlos Alberto Montaner, reconheceu que a morte ou a retirada definitiva de Fidel Castro deixaria o povo cubano na orfandade, mas nem isso deverá impedir o retorno pacífico e ordeiro da democracia. A ilha e sua população já sofreram privações em demasia e, por mais arcaica que seja a proposta, é mediante o exercício efetivo da entente cordiale que os cubanos poderão se reencontrar para uma vida de paz.

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