São Paulo (AE) – A crise do "mensalão" pode derrubar mais integrantes da executiva nacional do PT. Depois do afastamento do tesoureiro, Delúbio Soares, e do secretário-geral Silvio Pereira, a pressão agora recai sobre o secretário de comunicações, Marcelo Sereno – citado nas declarações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A permanência do presidente do partido, José Genoino, também é questionada por grupos mais à esquerda no espectro ideológico do partido. Hoje (5), na Câmara, um grupo de 18 parlamentares divulgou uma declaração pedindo "a recomposição da executiva, sem a presença de todos os dirigentes acusados". Segundo um dos signatórios do texto, o deputado Ivan Valente (SP), isso inclui Genoino.
O presidente do partido pode pedir afastamento, como fizeram Soares e Pereira, ou ser afastado pelo diretório nacional do PT, que vai se reunir no próximo sábado (9). Acredita-se que o futuro de Genoino será decidido neste encontro com a presença dos 83 integrantes do diretório.
O encontro será uma prova de força para o Campo Majoritário – o grupo que agrega as tendências mais moderadas e, sob a batuta do deputado José Dirceu, comanda o partido. Com 51% das cadeiras no diretório, o grupo atua há dez anos sem enfrentar uma oposição interna que ameace a orientação partidária que vem impondo ao partido. Mas a atual crise, a pior em toda a história do PT, tende a fortalecer o poder das tendências de esquerda, representadas, principalmente, pelas correntes Democracia Socialista e Articulação de Esquerda.
Com 36% do integrantes da cúpula do PT, essas correntes passaram a fazer coro contra a condução partidária das alas moderadas junto com alguns dos integrantes do centro. Prova desse fortalecimento foi a apresentação, hoje, de uma proposta de resolução partidária assinada pela Democracia Socialista e Articulação de Esquerda em conjunto com o Movimento PT. Nela, o grupo propõe, entre outras coisas, que o PT reconheça que cometeu erros e reveja sua política de alianças. Juntos, esquerda e centro poderiam reunir 49% das cadeiras da cúpula do Diretório Nacional.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que foi lançada candidata a presidente do partido pelo Movimento PT, preferiu manter-se na retaguarda. Para ela, o partido deve "permanecer unido para sair dessa crise sem prejuízos". "Não acho que o afastamento do Genoino contribua para o partido." Porém, a deputada e outros dois candidatos à presidência do PT (Markus Sokol e Walter Pomar) aproveitam a crise para criticar a condução política do partido implementada pelo Campo Majoritário.
É que a reunião do Diretório Nacional também servirá de prelúdio para o Processo de Eleição Direta (PED) do partido, que acontece no dia 18 de setembro. Além de Genoino, candidato do Campo Majoritário, outros cinco petistas estão na disputa: Plínio de Arruda Sampaio, Raul Pont, Maria do Rosário, Walter Pomar e Markus Sokol. Desses, apenas Maria do Rosário pertence a um grupo não alinhado com as alas mais à esquerda.
Um dos membros da alta cúpula do partido, que pediu para não ser identificado, afirmou que a possibilidade de união entre as alas de esquerda e as alas de centro representa um risco de que a eleição seja levada para o segundo turno – o que dificultaria a manutenção do controle do partido pelo Campo Majoritário. Votarão nas eleições diretas 830 mil filiados do PT.