Produzida pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a vacina que imuniza contra os quatro vírus da dengue será desenvolvida até o fim deste ano em São Paulo. Em vez de comprar a vacina, o Instituto Butantan importará os vírus geneticamente modificados que a compõem para produzi-la. "Só estamos esperando autorização para a importação", conta o diretor da Fundação Butantan, Isaías Raw. A chegada dos vírus depende de aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que controla a entrada de seres geneticamente modificados no País.

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"Assim que recebermos os vírus, em 90 dias teremos a vacina", garante Raw. Depois de chegar ao laboratório do Instituto Butantan, os vírus com seqüência genética já alterada serão reproduzidos em células isoladas. "Então, separamos das células os vírus, já atenuados", explica. Pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos retiraram da seqüência de RNA de cada um dos quatro vírus causadores da dengue 30 nucleotídeos para conseguir atenuá-los. Depois, fizeram testes em macacos e voluntários. "A vacina tem toda a chance de funcionar bem", opina Raw.

Nos EUA, a nova vacina está sendo estudada há seis anos. Pouco antes, na Tailândia, também foram feitas pesquisas para atenuar o vírus vivo, que não causasse a doença e determinasse a proteção. Mas, segundo Raw, os estudos foram frustrados. "Foi utilizado um método tradicional, mas menos científico. A melhor maneira é atenuar o vírus alterando sua seqüencia genética", afirma. No Brasil, o único tipo de prevenção da dengue até agora é impedir a propagação do mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença, evitando o acúmulo de água parada para evitar sua reprodução

Com a autorização da CTNBio, os vírus serão reproduzidos e testados em camundongos no Instituto Butantan. "Até o fim do ano teremos os dados para saber se a vacina oferece proteção", diz o diretor da Fundação Butantan. Para começar a fase de testes em seres humanos, primeiro será necessário obter o aval da Anvisa e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e definir em quais regiões e qual época do ano há maior incidência de dengue. No ano passado, as cidades paulistas que mais tiveram registro de dengue, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, foram São José do Rio Preto, com 12.045 casos e Ribeirão Preto, com 4.008.

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Segundo o secretário Estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, o Estado planeja a produção de vacinas contra a dengue há dois anos, quando, por meio do Instituto Butantan, fechou parceria com o instituto que desenvolveu a vacina nos EUA. "A produção brasileira faz com que os custos sejam menores e cada vez mais pessoas tenham acesso às vacinas", afirma o secretário. A vontade de Isaías Raw é de que os testes em humanos comecem ainda em 2007. "Estamos correndo contra o tempo.