São Paulo tem a maior população negra do País

Maior concentração de japoneses fora do Japão e segunda maior de italianos fora da Itália, o Estado de São Paulo também é um bom pedaço descendente de africanos: um estudo divulgado ontem pela Fundação Seade revelou que São Paulo conta com a maior população negra e parda do País em números absolutos: 12,5 milhões de pessoas, o que equivale à população de Angola. O estudo se baseia em dados colhidos em 2005 pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) do IBGE.

Embora a proporção de negros em relação à população total seja menor em São Paulo (31%) do que no resto do País (49,4%), o número de paulistas que se classificam como pretos ou pardos cresceu em relação a censos anteriores: passou de 25,5% em 1990 para 27,2% no ano passado. Como a classificação por grupo étnico é feita por declaração (o entrevistador pede à pessoa que se atribua uma cor), o crescimento pode indicar um mero aumento da população que se assume negra. "Não tenho dúvidas de que esse tenha sido o principal responsável pelo aumento", diz o geógrafo Paulo Roberto Moraes, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O estudo revelou também que as mortes por causas externas – entre as quais se incluem os assassinatos – são duas vezes mais freqüentes entre os negros (120 por 100 mil habitantes) do que entre os brancos (60,5 por 100 mil/hab.).

O crescimento dos negros em relação à população total realimenta o debate a respeito das políticas específicas para a os negros e pardos. O advogado José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares (Unipalmares), vê os números da PNAD como uma justificativa a mais para a implementação de medidas voltadas para a redução do que ele chama de ‘abismo’ entre negros e brancos. "Todos sabíamos, empiricamente, que os negros constituíam uma parte imensa da população do Estado. Essa pesquisa só veio corroborar o que já se intuía", diz. Vicente é favorável à ampliação das políticas afirmativas para áreas como a seleção de estagiários pelos órgãos públicos e a escolha de fornecedores para as compras governamentais. "Precisamos fazer com que o Estado reconheça essa proporção.

Para Moraes, a política de cotas pode ter efeito contrário: o de cristalizar a desigualdade que tenta remediar. "Não acredito que seja a solução adequada, porque o risco que se corre é o de que as diferenças sejam cristalizadas", diz ele, que teme a ‘americanização’ da situação racial no Brasil.

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