A Justiça Federal determinou a apreensão da agenda que o prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), usava na época em que exerceu as funções de secretário-executivo e de ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, no período entre 2001 e 2002.
Barjas está sob investigação da Polícia Federal e da Procuradoria da República porque o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antonio Vedoin, envolveu seu nome em um capítulo da trama que lesou em R$ 110 milhões o Tesouro.
Barjas sucedeu a José Serra (PSDB), governador eleito de São Paulo, à frente do ministério. A Justiça autorizou a PF a tomar seu depoimento no inquérito aberto para apurar sua relação com os líderes do esquema.
O operador de Barjas seria o empresário Abel Pereira, que também é alvo da PF e teve o sigilo fiscal e bancário quebrado – inclusive com análise da movimentação de CPMF – por ordem judicial. Vedoin acusa Abel de ter captado R$ 601 mil em propinas.
Empenhos
A apreensão da agenda foi requisitada pelo Ministério Público Federal. A Justiça também mandou o Ministério da Saúde entregar cópias dos empenhos liquidados em 2002. O MP quer confrontar os dados da agenda com as planilhas da movimentação de recursos da pasta.
Na agenda do ex-ministro – se ainda não foi deletada, porque já se passaram quase 4 anos -, a PF e a procuradoria esperam encontrar pistas sobre os contatos de Barjas.
Os investigadores querem ter acesso às anotações lançadas especialmente entre novembro e dezembro de 2002.
Inicialmente, eles suspeitam que Abel teria sido o maior beneficiário de uma transação com a Prefeitura de Jaciara (MT) para a construção de um hospital municipal com verbas da pasta da Saúde.
O negócio foi fechado a 12 dias do término da gestão FHC. A licitação que Abel venceu está sob suspeita. A Construtora e Pavimentadora Cicat Ltda., uma de suas empresas, foi a única que participou do certame.
A liberação do dinheiro – R$ 495 mil, em duas parcelas – teria recebido o aval de Barjas, amigo de Abel. A verba permitiu a execução de um convênio entre o empresário e o então prefeito de Jaciara, Valdizete Nogueira (PPS).
Depoimentos
Abel vai depor na PF em Cuiabá, na próxima semana. Seu advogado, o criminalista Eduardo Silveira Mello Rodrigues, disse que o empresário está à disposição da PF e da procuradoria para os esclarecimentos. O advogado informou que Abel jamais recebeu propinas do esquema dos sanguessugas.
Barjas assegura que não houve irregularidades no convênio. Sobre o acesso à sua agenda no Ministério da Saúde, ele disse que não há problemas. "Minha agenda era pública, se isso ainda estiver nos arquivos (do ministério), só vai demonstrar o quanto a gente trabalhava.
O prefeito disse que aguarda com tranqüilidade a intimação da PF. "Quando chamado, irei dar as explicações sem o menor problema", garantiu o ex-ministro.
Ele admitiu ter recebido Abel no gabinete, no primeiro semestre de 2002. "Na verdade, eu recebi o prefeito de Jaciara, que se fazia acompanhar de Abel. Isso era um procedimento normal", assegurou. "Eu recebia entre 10 a 15 prefeitos todos os dias, além de deputados que acompanhavam prefeitos e diretores de hospitais. Era minha função.