O governador Roberto Requião, acompanhado de 250 alunos de primeira a oitava série de escolas públicas de Pinhais, Colombo, Quatro Barras, Campina Grande do Sul e Curitiba, participou ontem da conclusão do plantio de 4 mil mudas de espécies nativas, como aroeira, araçá, araticu, ingá, tarumã e ipê, na margem direita da represa do Iraí, no Parque das Nascentes, em Pinhais. O projeto desenvolvido pela Sanepar visa à recuperação da mata ciliar no entorno da barragem. “Iniciamos aqui um processo de recuperação de toda uma área que estava abandonada e a qual queremos transformar em modelo ambiental e que traga benefícios para toda a população”, afirmou o governador.
Requião referiu-se ao complexo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Iraí, na qual inclui-se o antigo Parque Castelo Branco e as fazendas experimentais do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “É todo um trabalho de parceria que envolve órgãos do governo, a UFPR e prefeituras da Região Metropolitana de Curitiba. Além de outros projetos de educação ambiental, vamos implantar uma fazenda-escola de agricultura orgânica, para ensinar técnicas de manejo aos pequenos agricultores”, disse o governador.
Passivo ambiental
O presidente da Sanepar, Caio Brandão, destacou que a Sanepar está atuando de forma intensa para recuperar o passivo ambiental acumulado ao longo dos últimos anos. “Além de executar obras para coletar e tratar o esgoto sanitário, estamos desenvolvendo ações de recuperação dos danos já ocorridos no ambiente”, afirmou.
A diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, explicou que o plantio de mudas no entorno da barragem integra o Programa de Mata Ciliar, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente, e que será lançado nos próximos dias. “A ação no Iraí é uma das contribuições da Sanepar nesse projeto de governo, que envolve vários órgãos e tem como um dos objetivos recuperar as áreas de manancial”, explicou.
Limpeza
Além do plantio de mudas de cerca de quarenta espécies de árvores nativas, a Sanepar vai transplantar outras vinte da área onde será construída a barragem Piraquara II, para a margem do lago Iraí. Segundo Maria Arlete é uma experiência para verificar se essas espécies se adaptam ao replantio e se poderão ser aproveitadas no reflorestamento de matas ciliares.
Ainda dentro do projeto desenvolvido pela Sanepar, será realizado, a partir da próxima segunda-feira (29), um mutirão de limpeza da margem esquerda do lago, começando da barragem até o Rio Cercado, com a participação de 50 internos da Colônia Penal Agrícola.
Proteção
“Acreditamos que, dentro de dois anos, as mudas plantadas hoje (ontem) já estejam com mais de um metro de altura e possam proteger o reservatório de água do Iraí”, estima o professor de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alessandro Ângelo. “Vamos acompanhar todo o crescimento das árvores e também promover o plantio em outras localidades da região.”
O plantio, que fez parte das comemorações da Semana da Árvore, teve o apoio da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), UFPR, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Hospital Adauto Botelho, entre outras instituições.
UFPR
Segundo a professora Iria Zanoni Gomes, do Departamento de Ciências Sociais da UFPR, já estão prontos cinco projetos a serem implantados na fazenda da universidade, dentro da proposta de transformá-la num centro de informações e alternativas para os pequenos agricultores e produtores rurais da região.
A substituição da suinocultura, processamento de leite e derivados, processamento de polpa de fruta, avicultura de corte e produção de aves alternativas, e experiência de pequena produção familiar diversificada em área de até 10 hectares são os primeiros projetos, que já contam inclusive com previsão de recursos do orçamento estadual no ano que vem.
“São projetos que contemplam a questão ambiental, dentro de modelos de recuperação de áreas degradadas”, explicou a professora. (CV, com Agência Estadual de Notícias)
Empresa sugere novo plano urbano
A Sanepar sugeriu a revisão de parte do Plano de Proteção Ambiental e Reordenamento Territorial (PPART) de Curitiba. Segundo a diretora de Meio Ambiente e Ação Social, Maria Arlete Rosa, o plano induz o planejamento da capital para a ocupação das áreas de mananciais, do lado leste do município.
A sugestão da Sanepar é que o crescimento da cidade ocorra para o sudoeste e que seja traçado um planejamento urbano, com o objetivo de proteger os recursos hídricos.
Cleverson Andreolli, do Grupo Específico de Consultoria, Intercâmbio e Pesquisa da Sanepar, diz que os prefeitos e órgão públicos devem ter uma posição firme para a proteção dos mananciais. “Para contornar a situação, as políticas públicas e o gerenciamento efetivo dos recursos hídricos devem ser feitos, necessariamente, de maneira responsável”, comenta.
Prevenção
Se os problemas de escassez e poluição da água não forem resolvidos, será criado um entrave para o processo de desenvolvimento do País, o que pode resultar em problemas sociais e de saúde. Andreolli avalia que, se não for feito um planejamento urbano com o objetivo de proteger os recursos hídricos, em 2020 haverá uma grande crise no abastecimento de água.
Caso isso ocorra, a Sanepar terá de captar água a 50 km de Curitiba, nas bacias de Várzea e Açungui. “O custo para esse tipo de operação é bem maior do que se for feita uma prevenção nas áreas de mananciais”, alerta Andreolli. A Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape) e a empresa francesa Sogreah são as responsáveis pelo estudo, realizado a pedido da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), no período de março a dezembro de 2002.