Salvação do PT

Assumindo provisoriamente a presidência nacional do PT, o ministro Tarso Genro deixa o Ministério da Educação, no próximo dia 27, depois de ter sido ministro das Cidades. Tal fato empobrece o governo, pois o político gaúcho é um dos melhores quadros da administração federal. E do próprio Partido dos Trabalhadores, tanto é que foi convocado para substituir José Genoino, derrubado pela crise que engolfa o governo e o partido.

A cúpula petista foi desmontada com as denúncias de existência do mensalão e outros escândalos que estão a pipocar, desde o pronunciamento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A princípio, houve resistência, os líderes petistas não admitindo a existência de negociatas envolvendo o partido (e o governo) e buscando reafirmar, a qualquer custo, o perfil ético que sempre buscaram imprimir ao PT. Mas foram caindo um a um os comandantes petistas, começando pelo secretário-geral, seguido por Delúbio Soares, tesoureiro do diretório nacional, do encarregado de comunicações e, por fim, o próprio presidente Genoino.

Tarso Genro e os que o acompanham na recomposição do diretório são provisórios nos cargos, mas é muito provável que o político gaúcho seja eleito na convenção nacional de setembro. Entretanto, não há tempo a perder, pois o partido debate-se numa seriíssima crise financeira, com uma dívida da ordem de R$ 20 milhões. Além de parte dessa dívida ter sido um dos motivos dos escândalos que corroeram o partido, a agremiação não tem dinheiro para saldá-la e uma das instituições credoras é o Banco do Brasil. E o publicitário mineiro Marcos Valério de Souza, apontado como o operador do mensalão, saiu de cena, corre agora atrás de seus próprios ?prejuízos?, já que não pode mais correr da polícia.

Tarso Genro montou uma agenda para tentar salvar o PT, seja financeiramente, seja recuperando a confiança de sua militância e da nação. Uma tentativa, com a formação de diversas comissões com objetivos certos, mas resultados duvidosos. Os novos dirigentes petistas ligam sua ação ao governo, falando em acompanhamento mais de perto de sua ação, em particular da atuação dos petistas que trabalham com Lula. Isso significa ligar mais estreitamente o PT com o governo, onde o partido do presidente Lula não é maioria nem manda. Tem de dividir responsabilidades e eventuais ganhos e perdas com uma porção de partidos e alas de agremiações políticas, agora mais ainda com os do PMDB, cuja participação foi ampliada.

Há quem entenda que a recuperação do conceito ético do PT, e mesmo a sua depuração com expulsões e cassações de mandatos, seja possível. Mas a reeleição de Lula ou a eleição de um outro petista no próximo pleito está ficando cada vez mais distante.

Já o governo, ou melhor, o PT no governo, paradoxalmente tem de se agarrar em Antônio Palocci, ministro da Fazenda, apesar de sua política econômica neoliberal e contrária a tudo o que o Partido dos Trabalhadores sempre pregou. Política econômica que já produziu a expulsão de alguns quadros partidários históricos, inclusive da deputada filha de Tarso Genro. Essa política sofre críticas de todos os lados, mas ainda é o que mais certo tem dado para o governo. Assim, chegamos a uma situação semelhante àquela do governo Itamar Franco, que se salvou e fez seu sucessor usando o Plano Real, à frente do qual estava o então ministro da Fazenda, FHC.

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