O Brasil possui as variantes exigidas para se tornar potência mundial do agronegócio no decorrer do século. A área cultivada é de 62 milhões de hectares, sem a necessidade de desmatar uma polegada da floresta amazônica. E uma das pilastras do salto definitivo é a vantagem, que poucos países dispõem, de incorporar à produção agropecuária outros 92 milhões de hectares.
Estudo elaborado por Mauro de Rezende Lopes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), informa que a área plantada pode se expandir em 4,5% anuais num horizonte de dez anos, apenas pelo aproveitamento dos espaços ociosos nas propriedades rurais. O pesquisador ressaltou que não haveria sequer a necessidade de realizar investimentos em infra-estrutura de acesso ou escoamento da produção.
Lopes mostrou, ainda, que essa incorporação de espaço ocioso em termos quantitativos representa cerca de 1,8 milhão de hectares por ano, o mesmo índice de crescimento da área plantada de soja no auge da cultura. Se o processo tivesse início imediato, o resultado seria a ampliação da área produtiva de grãos, fibras e carnes, em 16 milhões de hectares nos próximos dez anos.
Como todo progresso tem seu custo financeiro, o pesquisador calculou o valor do crédito rural de custeio para levar avante o projeto – R$ 16,1 bilhões – ou a metade de todo o crédito rural aplicado até hoje no País. O problema fica sem solução quando se procura identificar a fonte de recursos desse porte.
Cerca de 70% do total do crédito rural brasileiro significam recursos atualmente imobilizados, explicou o técnico da FGV, portanto, indisponíveis, tendo em vista seu comprometimento com a obrigatoriedade do refinanciamento das dívidas rurais, cujo grau de inadimplência é deveras elevado.
Assim, a concretização de um projeto factível esbarra na realidade atual da nossa economia e na absoluta falta de recursos para solidificar uma extraordinária conquista. A possibilidade de avanço imediato da agricultura está na expansão do cultivo de cana, visando aumentar a produção de etanol. Todavia, cresce na mesma intensidade a discussão sobre o aumento do custo dos alimentos, face à crescente demanda por biocombustíveis.