Já é janeiro. O ano começa oficialmente, e aos poucos a rotina vai retornando ao ritmo normal. Ainda assim, lá está ele. Na sala de estar, na portaria do prédio ou naquele cantinho improvisado do escritório, o pinheirinho de Natal resiste ao fim das celebrações de fim ano e permanece decorando o interior de muitas casas e estabelecimentos, quase como que se recusando a “ir embora”. Enquanto alguns – mais apegados – se demoram a desmontar a árvore para não ter que dar adeus aos ares das festas, outros adiam o desmanche simplesmente para “evitar a fadiga”.
- Você sabe por que o mar do Paraná é “marrom” e o de Santa Catarina é azul?
- Médico tem crânio perfurado por estaca da barraca ao tropeçar em camping na Ilha do Mel
- Idosa fica presa em agência bancária do Água Verde
É o caso da funcionária pública Mariana Cordeiro, 26 anos. Para ela a retirada dos enfeites tem apenas um significado: preguiça. Adepta das tradições natalinas, ela diz gostar de decorar a casa, porém o momento de desmontar os enfeites não tem a mesma ‘magia’ do início das celebrações. Muito pelo contrário.
“Montar é divertido. Desmanchar cansa. Principalmente na hora de ‘dobrar’ o pinheiro e colocar de volta na caixa”, diz. Sem empenho e nem previsão de data para guardar os ornamentos, ela simplesmente “vai deixando” e esperando o momento em que surgir ânimo para a tarefa. “Antes da Páscoa eu desmonto”, brinca.
Já para a assistente de comunicação, Stephanie Stringari, 30, desmanchar o pinheirinho é triste por outros motivos. “Meus filhos Leo, quatro anos e Marina, seis, sempre ajudam e gostam muito de montar a árvore. É uma festa aqui em casa. Só que quando chega janeiro e a hora de guardar os enfeites, dá aquela dor no coração. Se pudesse eu deixaria o ano todo. Não devia existir data pra desmontar uma decoração tão linda”, lamenta.
Na data certa
Segundo a tradição cristã, porém, existe sim data certa para desmanchar o pinheirinho. Segundo o calendário litúrgico – que marca os acontecimentos cronológicos dos evangelhos durante o ano – a tarefa deve ser feita no dia 6 de janeiro, no qual é celebrado o Dia de Reis. De acordo com o monsenhor João Jomar Barcellos, vigário da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, no bairro São Francisco, o dia encerra os festejos natalinos e marca a chamada “Epifania do Senhor” – momento no qual Cristo se manifestou aos homens, sendo apresentado primeiramente aos reis magos, Gaspar, Baltazar e Belchior.
Via de regra, a maioria dos devotos católicos segue a tradição e desmonta os enfeites no dia 6. O vigário ressalta porém, que a tarefa não é obrigatória. “Não existe orientação específica da igreja católica para que a decoração seja desfeita no dia 6. Acabou se convencionando dessa forma, mas não é obrigatório. Cada um deve fazer segundo as suas conveniências”, afirma.
Assim como na igreja católica, entre os protestantes, o dia 6 de janeiro também guarda significado especial. Quem explica é o reverendo Arthur Martins, da Igreja Presbiteriana do Brasil. “Nas igrejas protestantes o ‘tempo dos reis’ representa o início da contagem dos eventos que antecedem a Páscoa – uma das datas mais celebradas entre os evangélicos. Por isso, liturgicamente o período é importante”, afirma.
Segundo Arthur, porém, o período não traz, necessariamente, a obrigação de desmontar os enfeites de Natal. “É uma tarefa livre, que pode ser convencionada por cada família. O que importa é ter em em mente o significado dessa celebração, qual seja, a vinda de Cristo ao mundo”, ressalta
Sempre uma festa
Para a arquiteta, Roselene Salemme, o dia 6 de janeiro é reservado especialmente para a missão que, ao contrário do que se imagina, não é feita com pesar, mas com alegria. “Comecei a respeitar a data depois que me aproximei mais da igreja, há uns 16 anos. Naquela época minhas filhas eram pequenas e curtiam muito. Montar ou desmontar a árvore: tudo era festa. Com o tempo, isso ganhou novo significado e o período tomou ares de fraternidade entre amigos e doação de presentes”, afirma.
Mesmo sem a obrigatoriedade da tarefa, no que depender de Roselene, a tradição permanece. E o dia 6 será sempre especial para a família Salemme. “Sigo cumprindo a tradição e espero que as meninas a repassem para meus netos, e assim por diante”, finaliza.