O presidente iraquiano deposto, Saddam Hussein, foi capturado pelas tropas americanas perto de sua cidade natal, Tikrit, na noite de sábado. “Senhoras e senhores, nós o pegamos”, disse o administrador americano no Iraque, Paul Bremer, na entrevista coletiva em Bagdá em que as autoridades americanas anunciaram oficialmente a prisão de Saddam.
O ex-líder iraquiano foi encontrado em um porão na cidade de Abduar, a cerca de 30 quilômetros ao sul de Tikrit.
O comandante das forças americanas no Iraque, general Ricardo Sanchez, disse que Saddam foi capturado sem resistência e sem que um único tiro fosse disparado.
Durante a coletiva, as autoridades americanas exibiram imagens do ex-líder iraquiano, já sob custódia, com uma barba comprida e grisalha.
O vídeo também mostrava o esconderijo de Saddam e cenas do exame médico realizado no presidente iraquiano deposto.
A prisão de Saddam havia sido confirmada inicialmente pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair.
O premiê disse que a prisão remove a sombra de um possível retorno de Saddam ao poder e abre caminho para que o ex-líder seja julgado por um tribunal iraquiano.
Em seguida, o chefe do Conselho de Governo Iraquiano indicado pelos Estados Unidos, Abdel-Aziz Al-Hakim, afirmou que testes de DNA confirmaram que o homem preso pelas forças americanas é mesmo Saddam Hussein.
Saddam Hussein era o homem mais procurado pelas autoridades americanas desde o início da guerra no Iraque, em março.
Desde então, mesmo após a queda do regime liderado por Saddam, diversas gravações de áudio com mensagens atribuídas ao ex-líder iraquiano têm pedido que a população do Iraque lute contra a ocupação das tropas lideradas pelos Estados Unidos.
O governo americano chegou a oferecer uma recompensa de US$ 25 milhões (cerca de R$ 73 milhões) pela captura de Saddam Hussein.
Saddam foi o alvo de intensas operações de busca realizadas pelas tropas da coalizão que invadiram o Iraque.
Em 22 de julho, Uday e Qusay, filhos do ex-líder iraquiano, foram mortos em um ataque das forças americanas em Mosul, no norte do Iraque.
“Amanhecer Vermelho” foi a fórmula para a detenção
Uma informação passada ao serviço de inteligência americano no Iraque, no sábado, às 10h50 do horário local, desencadeou a chamada “Operação Amanhecer Vermelho”, que resultou na prisão de Saddam Hussein.
Cerca de 600 tropas americanas e forças especiais da coalizão foram enviadas para a cidade de Ad Dawr, perto da cidade natal de Saddam, Tikrit, ao norte do Iraque.
Dois locais
A operação foi focada em dois locais, chamados de “Wolverine 1” e “Wolverine 2”, considerados possíveis esconderijos do ex-líder iraquiano.
Em um desses locais, as tropas suspeitaram de uma área murada contendo uma estrutura metálica e uma cabana de lama.
Ao entrar no local, as tropas descobriram um pequeno “buraco de aranha” camuflado com tijolos e lixo.
Na terminologia militar, “buraco de aranha” significa um túnel de ligação com uma câmara subterrânea.
Por volta das 20h30 do horário local, os soldados entraram no túnel e encontram Saddam Hussein em seu esconderijo.
Buraco
O ex-líder iraquiano se refugiou a cerca de dois a três metros abaixo da terra em uma câmara larga o suficiente para que uma pessoa se deitasse.
Não foi disparado nenhum tiro durante a operação e Saddam não apresentou nenhuma resistência.
Em entrevista coletiva em Bagdá, o general Ricardo Sanchez disse que Saddam estava “falante e cooperativo”, não apresentava ferimentos e estava saudável.
Também foram encontrados no esconderijo US$ 750 mil em notas de cem dólares, duas metralhadoras AK-47, uma pistola e dois outros iraquianos.
Um táxi branco e laranja estava estacionado perto do esconderijo.
Retirada
Saddam foi retirado da câmara às 21h15 e levado para um local não revelado.
Sanchez mostrou um vídeo mostrando Saddam Hussein, com barba, sendo examinado por um médico americano.
O general descreveu o ex-líder iraquiano como um “homem cansado, conformado com seu destino”.
Alguns iraquianos que estavam na entrevista coletiva começaram a gritar “morte a Saddam” assim que as imagens foram mostradas.
Iraquianos comemoram captura com festa e tiros
Iraquianos tomaram as ruas em Bagdá e outras cidades do país, para comemorar a captura do presidente deposto do Iraque, Saddam Hussein.
Em Kirkuk, no norte do país, centenas de curdos dispararam tiros para o alto e se abraçaram, quando a notícia foi divulgada pelas forças americanas, ontem de manhã.
“Nós estamos celebrando como se fosse um casamento”, disse Mustapha Sheriff, que participava das comemorações. “Estamos finalmente livres desse criminoso.”
“Não posso descrever como estou feliz”, disse Ali Al-Bashiri, outro morador de Kirkuk.
Cenas parecidas se repetiram na capital iraquiana e nas cidades de Nassíria e em Basra, no sul do país.
Em Bagdá, salvas de tiros eram ouvidas em toda a cidade enquanto iraquianos dirigiam pelas ruas buzinando e fazendo o sinal de vitória.
Apesar das comemorações, muitos iraquianos relutam em acreditar na prisão do ex-líder que governou o país por 24 anos.
“Eu ouvi a notícia, mas só vou acreditar vendo”, disse Mohamed al-Hasaji.
“Eles (as forças americanas) precisam nos mostrar que realmente estão com ele.”
Embora a coalizão liderada pelos Estados Unidos tenha divulgado fotografias de Saddam capturado, muitos iraquianos ainda não viram as imagens.
A expectativa dos americanos é que a prisão mine o movimento de resistência à presença americana no país.
“A resistência se espelha nele. Há ainda gente que acredita que ele vai voltar”, afirmou o líder do Conselho Supremo da Revolução Islâmica, Ali Albayati.
“Isso vai trazer paz para o Iraque, sem sombra de dúvida.”
A iraquiana Ayet Bassem, de 24 anos e mãe de um menino de seis, também diz acreditar que a situação vai melhorar daqui para frente.
“As coisas vão melhorar para o meu filho”, diz Ayet.
