O plástico tornou-se indispensável em todas as atividades essenciais ao desenvolvimento humano. Graças a ele, os carros e foguetes são hoje mais leves, as agulhas e seringas são descartáveis, a construção civil, a indústria eletroeletrônica, têxtil e de utilidades domésticas puderam criar milhares de novos produtos, sem falar na revolução que ocorreu no setor de embalagens.
Se a utilização em larga escala das sacolas plásticas é atualmente questionada, isso se deve a uma série de informações desencontradas. Entender o motivo de seu uso intensivo é fácil. Impermeáveis, 100% recicláveis e maleáveis, elas não são úteis apenas para embalar compras, mas para acondicionar o lixo de residências e escritórios. E mais: têm uma excelente relação custo/benefício. O que muitos não entendem é que o problema não está nas sacolas plásticas, mas sim no seu mau uso.
Como todos os cidadãos preocupados com a deterioração do meio ambiente, defendemos a racionalização do uso de sacolas e outros produtos descartáveis, sejam eles de plástico ou não. Porém, é preciso esclarecer uma série de equívocos. Há, por exemplo, os que culpam os sacos plásticos lançados em vazadouros por impedir a decomposição de materiais biodegradáveis e dificultar a compactação de detritos, além de estimarem em vários séculos o tempo necessário para sua decomposição.
Em primeiro lugar, vale ressaltar, o tempo exato de decomposição dos plásticos ainda não foi determinado, pois sua fabricação em escala industrial tem cerca de 50 anos. Quanto aos materiais orgânicos, é um mito a crença de que sempre se decompõem rapidamente. Afinal, arqueólogos realizaram escavações em lixões e encontraram totalmente intactos hortaliças e jornais enterrados há décadas. Na verdade, a decomposição só ocorre em determinadas condições, como insolação, calor, oxigenação e umidade. Nos casos citados acima, a decomposição deixou de ocorrer justamente por falta dessas condições. Mesmo com relação à perspectiva de utilização de sacolas plásticas degradáveis, é preciso cautela. Os materiais degradáveis não desaparecem. Podem deixar de ser um resíduo sólido, mas revertem em emissões para o solo, o ar e a água, que contribuem para o aumento da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), afetando o equilíbrio ecológico.
Já o lançamento de sacos plásticos, restos de comida e outros materiais em vazadouros e na natureza é fruto da falta de educação e consciência ambiental de grande parte da população. Segundo dados do IBGE, 60% dos resíduos sólidos são depositados em lixões a céu aberto ou jogados na natureza. Some-se a isso o fato de que muitos municípios não dispõem de um sistema de coleta de lixo eficiente.
Diante desse quadro, condenar o uso de sacolas plásticas seria um retrocesso. O que se necessita é de um aumento significativo da coleta seletiva, para viabilizar a reciclagem de todos os materiais. O que passa, necessariamente, por ações voltadas à educação ambiental.
Merheg Cachum é presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).
