O ministro Antônio Palocci, incumbido de cuidar das finanças do País, uma das ocupações mais espinhosas da República, declarou, com a frieza requerida do médico no momento de fazer a incisão e retirar o corpo estranho, que não se diminui carga tributária a curtíssimo prazo.
Isso quer dizer que o paciente combalido ao extremo de sua força pela ação renitente da infecção econômica, continuará sentindo os efeitos da conexão direta de seu bolso com os cofres do governo federal, pela qual se realiza a transfusão do equivalente a quatro meses de salário por ano.
O quadro é gravíssimo, mas ao doente se recomenda simplesmente um reforço na dose de tranqüilizantes para retardar o colapso total.
Tentando fazer sua parte, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, procurou amenizar o diagnóstico preocupante de Palocci, acenando com improvável queda da carga tributária nos próximos anos, conquanto haja alguma elevação do Produto Interno Bruto (PIB).
Em bom português: para cair a carga tributária, o PIB deve aumentar. De resto, uma equação que governantes brasileiros há décadas tentam resolver, convenhamos, sem o menor sucesso.
Dirceu afirmou que a carga tributária chegou a 35,45% do PIB em 2004. Um percentual assombroso, pouco abaixo do registrado em 2002 (35,53%), mas superior aos 34,88% de 2003, primeiro ano do mandato do presidente Lula. A espiral da carga tributária deu a largada em 1999, ao saltar para 31,79%.
Uma saúde de ferro contrastante com a péssima situação vivida pelo povo, realimentada com esmero pela bateria de remendos adicionados ao que se chama política tributária. O grande exemplo é a MP 232, origem da maior onda de indignação nacional ante a voracidade fiscal do governo.
Burocratas do governo procuravam enxertar na medida alguma compensação aos setores mais atingidos. Tenta-se dar ao purgante certo sabor de frutas.