Sabedoria popular

O uso do cachimbo faz a boca torta, ensina um dos adágios mais populares em todas as regiões do País. O precioso dito originário dos usos e costumes das pessoas mais humildes, nem por isso desprovidas de admirável base cultural, poderia ser complementado por outro não menos elucidativo: o hábito faz o monge.

Ora, pelo que estamos vendo nos arraiais governistas, ambos os ditados servem como uma luva confeccionada sob medida, quando se procura explicação razoável para entender o açodamento subserviente com que alguns componentes do apoio partidário ao presidente Lula se mostram dispostos a sacar coelhos da cartola rasgada.

É o caso explícito do deputado Luciano Castro (RR), líder do PR na Câmara, que teve a infeliz idéia de revelar a pretensão de ressuscitar a CPMF – decerto com outro nome – cujos recursos seriam aplicados com exclusividade na área da saúde.

O deputado soltou a informação na quinta-feira, ao sair da reunião com o ministro Paulo Bernardo, na qual os líderes da base souberam que o montante de cortes no orçamento deverá ficar em R$ 18 bilhões. Por outro lado, a arrecadação prevista com o IOF e a CSLL, também segundo Bernardo, será de R$ 11,1 bilhões.

A sugestão da volta da CPMF foi prontamente aceita pelo líder petista, deputado gaúcho Henrique Fontana, enfatizando a necessidade de arrecadar pelo menos uns R$ 20 bilhões adicionais para a continuidade do atendimento fornecido pelo SUS. A fim de suavizar a repercussão negativa da medida, Fontana arrazoou que a mesma deverá constar da proposta de reforma tributária que o governo enviará, em fevereiro, ao Congresso.

O ministro Paulo Bernardo foi o primeiro a rechaçar a possibilidade da recriação da CPMF, ou que outro nome venha a ter o morto e enterrado imposto do cheque, refugando inclusive o subterfúgio de embutir a mordida nas futuras discussões da reforma tributária.

Procurando evitar maior desgaste à imagem do presidente da República e do próprio governo, o ministro deu a entender que a proposta foi recebida como uma bazófia descabida e, por isso, relegada ao escaninho das contribuições inservíveis.

?Nem pensar na volta da CPMF?, respondeu de bate-pronto o senador José Agripino Maia (DEM-RN), líder do partido na Casa. O parlamentar simplesmente encareceu que o governo perdeu o crédito diante da oposição ao quebrar o compromisso de que não haveria aumento de impostos, caso a Desvinculação das Receitas da União (DRU) fosse aprovada. Quem com ferro fere…

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