O Ministério do Exterior da Rússia criticou duramente hoje os Estados Unidos pelo que considerou ser sua tendência de recorrer demasiadamente à força e advertiu Washington a não promover uma ação militar contra o Irã. Mas numa grande revisão de prioridades na política externa, a chancelaria disse que Moscou está disposto a cooperar durante crises globais caso Washington o trate como um parceiro igual.
Num documento de 70 páginas, ecoando um duro discurso feito pelo presidente Vladimir Putin na Alemanha no mês passado, o Ministério reafirma a determinação da Rússia de desafiar os Estados Unidos quando sentir ser necessário. A política reflete a crescente confiança e força econômica da Rússia e parecer sinalizar para Washington que, enquanto os dois países podem trabalhar em conjunto, o Kremlin não se alinhará automaticamente aos EUA.
"A comunidade internacional não pode assumir riscos relacionados à escalada da situação em torno do Irã até que os EUA empreendam esforços sinceros, conscientes para normalizar as relações com Teerã", diz o ministério. "Tentativas de rotular Teerã como parte de um ‘eixo do mal’ e declarações sobre a necessidade de uma mudança de regime em Teerã exacerbam a situação".
A Rússia criticou o que chamou de "rasteira estratégia americana de arrastar a comunidade global para uma crise em grande escala em torno do Irã", um país que colabora na manutenção da estabilidade no Afeganistão e Ásia Central. Ao mesmo tempo, o documento do ministério condena o Irã por sua "posição não construtiva", refletindo a crescente irritação do Kremlin com a recusa de Teerã em suspender o enriquecimento de urânio, como pede a Organização das Nações Unidas (ONU).
A Rússia e a China, dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com significativos laços comerciais com o Irã, se opõem a esforços dos Estados Unidos para impor sanções mais duras contra a república islâmica. O documento do ministério destaca a necessidade de se promover uma "estratégia equilibrada no Irã, protegendo nossos interesses nacionais naquele país ao mesmo tempo em que evitando violações do Tratado de Não Proliferação Nuclear".
Adiantando que a exportação de armas continuará sendo um componente importante da política externa da Rússia, o Ministério adverte que "os laços técnicos e militares com o Irã devem ser desenvolvidos com base no cumprimento estrito das obrigações internacionais da Rússia e também levando em conta desdobramentos relacionados ao programa nuclear iraniano".
A chancelaria exigiu que os Estados Unidos retomem conversações sobre controle de armas, advertindo que a instalação de componentes de um sistema de defesa antimísseis dos EUA na Europa e planos de Washington de basear armas no espaço poderiam provocar uma nova corrida armamentista. O Ministério também sublinhou que a Rússia irá defender seus interesses políticos e econômicos em outras ex-repúblicas soviéticas.
"Uma Rússia cada vez mais forte e confiante tem se tornado uma parte importante de mudanças positivas no mundo", declarou. "O equilíbrio de forças e o ambiente competitivo perdido ao fim da Guerra Fria estão sendo gradualmente restaurados. O mito sobre um mundo unipolar desmoronou irrevogavelmente no Iraque".