Um encontro embalado pela atmosfera ?caliente? da capital amazonense reaproximou os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da vizinha e agitada Venezuela. Eles não mais se falavam há alguns meses, sob a alegação meramente protocolar da concorrida agenda do presidente brasileiro, embora as más línguas sustentem que Lula preferiu esfriar um pouco as relações com o colega de Caracas, sequer atendendo aos inúmeros chamados telefônicos do Palácio Miraflores.
Ao que parece, os dois presidentes voltaram a se entender e o sinal de que o cachimbo da paz foi fumado é que de agora em diante haverá uma reunião trimestral entre ambos. A próxima já ficou marcada para o dia 12 de dezembro, na Venezuela. E na conversa do Hotel Tropical, para fazer jus à grandeza imponente da torrente amazônica, os presidentes voltaram a tratar de investimentos conjuntos na Faixa do Orinoco e da construção da refinaria binacional em Pernambuco.
Contudo, o tema mais importante da reunião voltou a ser o interesse da Venezuela em fazer parte do Mercado Comum do Sul (Mercosul), além dos projetos que já estiveram em pauta e depois foram reservados em banho-maria, como o Banco do Sul e o gasoduto que pretende ligar a Venezuela à Argentina, cruzando os territórios boliviano e brasileiro.
Falando aos jornalistas, antes da chegada do presidente Lula ao local do encontro, Chávez creditou a demora da aprovação da entrada de seu país no Mercosul ao poder imperial do governo norte-americano. ?O império não permite que a integração da América Latina se realize, mas vamos continuar trabalhando para que ela aconteça?, resumiu.
Sobre a lentidão do processo no Congresso Nacional, que o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, acredita estar resolvido em novembro, Chávez admitiu a existência de um tempo de espera, mas que esse período não pode amesquinhar o princípio da dignidade. Mais tarde, Amorim comentou com os repórteres que o presidente venezuelano não empregou esses termos na conversa com Lula.
Brasil e Argentina têm interesse estratégico no gás natural abundante na Venezuela, da mesma forma que nosso governo tem como certa a participação na refinaria no município de Abreu e Lima, em Pernambuco, destinada ao tratamento do petróleo ultrapesado extraído das reservas do Orinoco. A Petrobras e a PDVSA (estatal venezuelana de petróleo) serão sócias no empreendimento, com 60% e 40% dos investimentos, respectivamente. As obras devem começar em 2010, se a linha direta Lula-Chávez não for interceptada por ruídos estranhos.