Rotina de pobreza leva paranaense a se tornar líder na luta pela moradia em SP

O ano é 1982. São Paulo. Verônica Kroll, paranaense, chega para trabalhar como empregada doméstica. Sem lugar para morar ela vai para um cortiço. "Engravido e minha filha nasce ali. Uma situação lamentável", diz. Recebe um convite de uma vizinha e começa a participar de reuniões para ganhar um lote do governo. Vê "que tinha muito mais gente sem casa". O ano é 1988 e Verônica se envolve na formação de ocupações de terras. Hoje, com 45 anos, ela é uma das principais líderes na luta pela moradia. É uma das integrantes do Fórum dos Cortiços, criado em 1993.

"Fui viajando para conhecer a situação de mutirões no Uruguai, trabalhei em mutirões", lembra ela, que também participa da 2ª Conferência das Cidades. "Quando cheguei em São Paulo, tinha idade de 22 anos. Fiz um movimento social e não consegui sair mais dele."

Segundo ela, o Fórum dos Cortiços foi criado a partir de uma divergência com outro movimento social da época. "Eu achava que a gente tinha que ocupar prédios no centro da cidade, fazer políticas habitacionais no centro", afirma. O Fórum dos Cortiços surge então "com a proposta de ocupar prédios públicos no centro da cidade, colocar gente para morar dentro desses prédios, porque essas pessoas estavam sendo despejadas e não tinham mais condições de viver na rua ou em albergue".

Verônica conta que a vida nos cortiços é subumana e cheia de dificuldades. Hoje ela tem a sua casa, que fica na periferia de São Paulo. "Cortiço é uma moradia pior que a favela porque ali a gente não tem direito de respirar, não tem direito ao sol, a um banheiro. Temos um quarto onde você dorme, cozinha, faz tudo. Tem um tanque pra lavar louça, pra lavar roupa, um chuveiro pra 30, 40 pessoas tomarem banho. É uma moradia mais que subumana. Nem deveria existir."

Para ela, a participação das mulheres nos movimentos sociais é grande e forte no Brasil. "Em todos os movimentos sociais, as mulheres estão na frente. Talvez pelo peso da família, da responsabilidade da família. A mulher enfrenta a luta do dia-a-dia".

Mãe de quatro filhos ? um deles adotado após a morte dos pais naturais que tinham aids e também lutavam pela moradia ?, ela conta ainda que nas ocupações de prédios no centro da cidade as crianças geralmente estão presentes. "O momento (da ocupação) é tão tenso que na hora as crianças obedecem às mães. Não largam delas, se protegem com a gente e nunca se machucam. Os adultos acabam se machucando, mas as crianças não. A nossa maior preocupação é proteger as crianças".

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