Não poucas vezes um membro do Congresso Nacional expressa em palavras adequadas o estupor pela descoberta de fraudes praticadas por colegas de bancada. Mas poucas vezes, e é escabrosa a constatação, a instituição age com o máximo rigor quanto à punição dos deputados e senadores surpreendidos em rota oposta àquela para a qual foram eleitos.

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O exemplo vem da leniência comprometida com que o Congresso tratou os acusados pela Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República, ademais das investigações realizadas pela própria CPMI dos Correios, que no conjunto desnudaram a trama do mensalão e do caixa dois. Tirando os renunciantes, a maioria dos envolvidos acabou absolvida em plenário, mesmo que o Conselho de Ética tivesse pedido a cassação do mandato.

De novo um congressista proclama-se revoltado e decepcionado com o alarmante número de parlamentares acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias superfaturadas, objeto de investigação da CPMI dos Sanguessugas, depois que a PF entregou ao Ministério Público Federal de Mato Grosso a lista inicial dos mafiosos.

O deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPMI dos Sanguessugas, se diz estarrecido com o fato de até 115 parlamentares e ex-parlamentares serem passíveis de indiciamento por apropriação indébita de dinheiro carimbado pelo governo para o setor da saúde pública. Elogiável a reação do deputado, de quem não se conhece, infelizmente, o que diz sobre o asco dos brasileiros forçados a deixar na máquina de arrecadação do governo a remuneração obtida em 145 dias de trabalho por ano.

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E desde sempre ressabiados ante o malfadado protecionismo corporativista, a indulgência plena dos maus elementos, único dispositivo congressual que funciona sem nenhum impedimento.

De súbito, a discussão derivou para o terreno da lana caprina: roubou-se mais no último mandato de FHC ou no governo atual? Qual deles se superou na indecente cegueira diante do roubo escancarado? Responda quem souber.

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