A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), recuou hoje no embate que travaria com o governador eleito, Sergio Cabral Filho (PMDB) na Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). No início da sessão extraordinária convocada para hoje, o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), leu uma carta da governadora na qual ela retirava da pauta o projeto que autorizava o governo do Estado a usar créditos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes) para quitar dívidas de sua administração.
Se fosse aprovado, o projeto polêmico daria a Rosinha – que se esforça para fechar as contas de seu governo sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal – a possibilidade de fazer com que empresas que receberam empréstimos do Fundes pudessem assumir dívidas do governo estadual em lugar do reembolso ao fundo. Com o caixa de seu futuro governo ameaçado, Cabral posicionou-se contra o projeto, afirmando que a ação de Rosinha era ilegal, ao comprometer receitas futuras para o pagamento de despesas atuais. Ele chegou a se encontrar com Rosinha, mas não conseguira o acordo, que parece ter sido alcançado ontem. Segundo deputados estaduais, a conciliação foi costurada por Picciani.
Apesar de não admitir as rusgas com Cabral, a carta de Rosinha atribui a desistência à "incompreensão de integrantes da equipe do futuro governo, que insistem em afirmar que haveria perda de receita para a nova administração". Ela também tenta justificar a proposição do projeto afirmando que tenta resolver o déficit orçamentário que diz ter herdado da ex-governadora Benedita da Silva (PT), há quatro anos. A petista será secretária de Ação Social de Cabral e controlará os programas sociais criados pelo casal Garotinho. A indicação é apontada como uma das causas do esfriamento das relações entre Cabral e o casal
Para o deputado Carlos Minc (PT), que também será secretário de Cabral, Rosinha retirou o projeto porque sabia que seria derrotada. Já o deputado Coronel Jairo (PSC), da base aliada da governadora, acredita que o governo venceria. "Cabral só é governador a partir de 1º de janeiro. A base seria fiel ao governo", afirmou. Para a deputada Cidinha Campos (PDT), a governadora teve "um momento de lucidez", ao sentir que o projeto repercutiria mal na opinião pública e constrangeria a base do governo, que será a mesma de Cabral.
O governador eleito esteve hoje em Brasília para despedir-se de sua cadeira no Senado. Cabral e seus auxiliares têm manifestado preocupação com a capacidade do governo estadual de honrar a folha de pagamento dos servidores estaduais nos primeiros dias de janeiro. Na carta enviada ontem à Alerj, Rosinha negou que o projeto traria ônus para o novo governo e reiterou deixará recursos suficientes para a folha salarial. Rosinha diz ainda que deixará o cargo cumprindo todas as exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal.