O PPS rompeu com o governo Lula. A agremiação, que depois do esfacelamento da União Soviética e a derrubada do muro de Berlim sofreu ampla revisão ideológica e, permanecendo de esquerda, deixou de ser marxista, tinha com Lula e o PT afinidades ideológicas. Ambos, PT e PPS, pertencem ao que se convencionou chamar esquerda democrática. O PPS chegou a disputar a Presidência da República com Ciro Gomes. No segundo turno, aliou-se ao PT e participou da campanha vitoriosa do atual presidente.
Não se sabe se o PPS vai se afastar dos cargos que ocupa no governo, principalmente o ministério ocupado por Ciro Gomes, embora esta seja a determinação da convenção e conseqüência lógica do rompimento. Mas o fisiologismo e o interesse por cargos fala mais alto que as questões programáticas e ideológicas. E o PPS rompeu demonstrando que diverge do governo de Lula porque este se afastou de seu ideário e reprisa políticas neoliberais do governo FHC.
O PMDB também rompeu com o governo. Os peemedebistas reivindicam uma posição de independência, de não "encilhamento", expressão usada pelo governador do Paraná, Roberto Requião, um dos líderes do movimento. A deliberação foi tomada por ampla maioria. Foram 396 votos, dos quais 386 pelo desligamento.
Na mesma oportunidade, determinou-se que os ministros peemedebistas das Comunicações, Eunício Oliveira, e da Previdência, Amir Lando, além de outros próceres do partido que ocupam cargos no governo, dele se afastem, pedindo exoneração. Já foi dito pelos "encilhados" que não vão deixar seus cargos, o que sinaliza seu desligamento do PMDB, seja pela expulsão ou a pedido.
Deliberou-se que as decisões do diretório do PMDB devem ser obedecidas por seus parlamentares. A questão fechada, que permitiu ao PT expulsar alguns de seus filiados mais ortodoxos, passa a ser, também, arma do PMDB, agora contra o governo de Lula. Não serão admitidas traições nas votações no Congresso. Não obstante, o PMDB insiste que não está rompendo, no sentido de passar para a oposição. Está, sim, tomando uma posição de independência, votando a favor quando entender que o que o governo quer é bom e justo. E contra, quando discordar. E o mais importante: pretende ter candidato à Presidência, no próximo pleito, disputando com Lula, que sonha com a reeleição.
Tanto no rompimento do PPS quanto no do PMDB foram invocados motivos programáticos e ideológicos, que, analisados, evidenciam um paradoxo.
Esses partidos aliaram-se ao PT e a Lula argumentando afinidades. São, como a agremiação do governo e seu líder, o presidente Lula, de feições esquerdistas. No rompimento, acusam o governo do PT do contrário. De ser de direita ou, no mínimo, neoliberal, governando na área econômico-financeira da forma como sempre condenaram e era seguida pelo governo passado.
Assim, tanto o governo quanto a oposição viraram uma salada mista, deixando o eleitorado confuso. PFL e até PSDB são considerados de direita. De direita também está sendo considerado o governo Lula, que tem como aliado até o Partido Liberal. No próximo pleito, pelo que os fatos de agora indicam, o eleitorado vai ter de votar, outra vez, em pessoas e não em programas e idéias, como é ideal numa verdadeira democracia.