Impressionantes a resistência física e a vontade de viver demonstradas pelo papa João Paulo II, há cerca de um mês lutando bravamente contra os efeitos de uma inflamação da laringe e traquéia, que o levou pela segunda vez à Policlínica Gemelli, em Roma, vendo-se os médicos obrigados a fazer uma traqueostomia, para facilitar-lhe a respiração.
Aos 84 anos, João Paulo II é portador do mal de Parkinson, além de ter sofrido durante seu pontificado o atentado na Praça de São Pedro e, anos depois, passado por delicada intervenção cirúrgica para a extração de um tumor. A idade avançada e a evolução do mal de Parkinson, doença que afeta o desempenho de todos os músculos, incluindo os respiratórios, são as principais preocupações da equipe médica que cuida do pontífice.
Operado no dia 24 de fevereiro para a introdução de um tubo metálico na traquéia, a fim de levar o ar diretamente aos pulmões, segundo os médicos, o papa só voltaria a falar normalmente dentro de algumas semanas. Qual não foi a surpresa, quando sua santidade apareceu numa das janelas do hospital, domingo passado, acenando para o povo.
As notícias reconfortantes para o mundo católico e para a humanidade, pelo profundo respeito que a pessoa de João Paulo II merece, completaram-se com as declarações dos cardeais alemães Joaquim Meisner e Joseph Ratzinger, figuras proeminentes da igreja, que na terça-feira visitaram o papa e trocaram com ele algumas frases.
Todavia, há grande preocupação quanto ao fato agravamento da doença não permitir ao papa o pleno desempenho das funções de governar. Na história recente do papado, Pio XII e João XXIII exerceram os últimos anos do pontificado enfrentando, o primeiro, prolongadas crises de amnésia, e o segundo, os estragos produzidos pelo câncer. Em nenhum dos casos houve renúncia.
Em momentos delicados como o atual, quando as atenções e orações da catolicidade pelo restabelecimento da saúde do papa se voltam para Roma, a cúria assume todas as prerrogativas de governo, mesmo sob o silêncio do chefe temporal da igreja. A barca de Pedro prossegue.