Uma cena que o torcedor são-paulino pensava não ver nunca está se tornando comum neste início de temporada. Nos últimos vinte dias, Rogério Ceni, maior goleiro-artilheiro da história do futebol, com 69 gols no currículo (44 de falta e 25 de pênalti), perdeu duas cobranças de pênalti. A última, na partida contra o Necaxa, na quarta-feira, pela Libertadores da América, custou caro ao time: o fim de uma invencibilidade que durou 29 partidas e quase seis meses.
Não é à toa que durante o desembarque da delegação são-paulina na tarde de ontem, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, o capitão foi o mais procurado pela imprensa. Foi rodeado no saguão por repórteres, cinegrafistas, microfones e gravadores. A chateação estava estampada em seu rosto. E Ceni foi direto quando questionado sobre a mudança no estilo de cobrar a penalidade.
"Porque o batedor sou eu! É como fazer uma pergunta. Quem pergunta é o repórter, quem bate sou eu! Decidi bater no meio e o fiz", disse o camisa 1, assumindo boa parte da responsabilidade pela derrota no México. "Treinei nos dois cantos mas já fui pensando em bater no meio na hora do jogo. Bati, ele deixou o pé e pegou. Se tivesse entrado, hoje (ontem) certamente as perguntas seriam diferentes.
A viagem de volta ao Brasil foi mais demorada para Rogério Ceni do que para os outros jogadores. O zagueiro André Dias revelou que o capitão quase não abriu a boca no avião. Dormiu a maior parte do tempo. "Não só por ser o capitão, mas pela importância que ele tem para o clube, é o jogador que acaba sentindo mais. Isso é visível. Mas não é porque errou que não pode cobrar mais ou ser trocado por outro. Ele continua sendo o melhor batedor de faltas e de pênaltis do time", disse o zagueiro.
Desde que passou a ser o cobrador oficial de pênaltis, há dois anos, nunca Rogério Ceni tinha tido um início de temporada tão decepcionante. Em 2005, no mesmo período, ele anotou três gols. No ano passado, ele balançou as redes seis vezes. Agora, em 2007 só um golzinho – contra o Corinthians, pelo Paulistão. Chances não faltaram. Além do Necaxa, ele já havia perdido contra ao Juventus.
"Nenhum torcedor são-paulino queria fazer o pênalti e vencer o jogo mais do que eu. Mas nem sempre a gente desembarca aqui com as glórias. Às vezes, acumula o peso de uma derrota, e a vida da gente é assim mesmo.
Com a derrota para o Necaxa, o São Paulo viu o rival mexicano disparar na liderança do Grupo 2, com nove pontos. O time brasileiro manteve o segundo lugar, com quatro – mesmo número de pontos do Audax Italiano, do Chile. O goleiro, porém, tem certeza que o time chegará as oitavas-de-final do torneio.
"Vamos em frente, não podemos baixar a cabeça nem ficar tristes. Hoje (ontem) é um dia ruim e ontem (quarta-feira) foi muito pior. Mas não adianta ter raiva ou ficar chateado porque o jogo da volta é só daqui a duas semanas", avisa.
Mesmo abatido e chateado por ter desperdiçado o pênalti que acabou sendo crucial para o resultado do jogo, Ceni ressalta: "Momentaneamente, nossa preocupação é com a classificação. Estando entre os 16, depois o São Paulo mostra sempre que é o São Paulo na hora das decisões. Tenho certeza, a convicção, de que esse time é competitivo e não vai deixar a peteca cair, especialmente na Copa Libertadores.