Rogério Ceni completará 700 jogos com a camisa do São Paulo. De glórias, títulos, polêmicas e, claro, gols! A marca que será alcançada na partida de sábado, contra o Figueirense, em Florianópolis (SC), é só mais uma dentro de tudo o que o goleiro-artilheiro já fez pelo clube. E, mesmo depois de 16 anos ele não se dá por satisfeito. Quer mais. O mais importante no momento é a conquista do Campeonato Brasileiro. Um dos poucos títulos que faltam no currículo do camisa um.
Apesar de tantos feitos e conquistas, Rogério não se empolga diante dos recordes. Sempre se mostrou contido na frente das câmeras e microfones. "É uma marca importante, que me orgulha muito. Mas não estou preparando nada de especial. Se houver alguma coisa, um uniforme diferente, ou uma placa comemorativa, será da diretoria de marketing. O que eu quero e estou concentrado é em ganhar o título brasileiro", diz.
Não é à toa que o goleiro é o recordista absoluto em vendas de camisa. Ainda mais depois da saída do zagueiro Lugano para a Europa. Atualmente, o que mais se aproxima é o volante Mineiro, autor do gol do terceiro título mundial, no ano passado. Um sucesso tão avassalador que conquista fãs até de outras torcidas.
"Um rapaz gremista veio falar comigo lá no jogo em Porto Alegre. Ele estava com a camisa do Grêmio e o filhinho dele também. Ele foi me dizer que o filho estava desesperado para chegar perto do Rogério. Falou que o garoto não perde um jogo do São Paulo só por causa dele", conta João Paulo Jesus Lopes, diretor de futebol do São Paulo.
Com contrato até 2008, o número 700 rapidamente virará pó. Se foi demorado para alcançar e derrubar o recorde que pertencia a Waldir Perez, como o jogador que mais vestira a camisa do São Paulo (617 jogos) até julho do ano passado, agora é Rogério Ceni quem tem tudo para se tornar insuperável. Ainda mais nos tempos atuais, em que jogadores trocam de clubes muito rápido, pensando exclusivamente em fazer logo um belo pé de meia. Basta ver que no atual elenco, o segundo atleta que mais jogou é Danilo: 187 vezes.
"O Rogério é um caso especial no futebol. Ele nos faz lembrar a época que o futebol era romântico", diz Muricy Ramalho.
Rogério tem tudo para chegar aos mil jogos. Apesar de só mais dois anos de contrato, é sabido pelos lados do Morumbi que ele pensa em renovar por outras duas temporadas, antes de pendurar as luvas e se aposentar, provavelmente aos 37 anos. Assim, caso o São Paulo mantenha uma média superior a 60 jogos por temporada Ceni ficaria muito próximo dessa marca.
"Ele é um dos maiores e pode ser considerado o maior por alguns aspectos: não lembro nenhum outro jogador com mais tempo de clube do que ele, com tantos jogos e ainda mais pelos gols. Se fizer uma relação com seis, sete ídolos, certamente o nome do Rogério estará nessa lista. Da era mais recente, dos últimos 15, 20 anos, com certeza ele é o maior", completa João Paulo Jesus Lopes.
Chegar a mil jogos nem é a obsessão do goleiro. Rogério já deixou claro que só continuará jogando se sentir bem e apto a defender o São Paulo. O que ele quer mesmo é chegar aos cem gols. Esse sim é o grande sonho do goleiro-artilheiro, que desbancou o paraguaio Chilavert (63 gols), em agosto desse ano. Hoje, ele tem 66 gols (43 de falta e 23 de pênalti). Recentemente, contra o Juventude, perdeu a chance de aumentar o recorde, chutando para fora uma cobrança de pênalti. Algo raro de acontecer.
Por coincidência, o camisa 1 chegou ao recorde justamente tendo como técnico aquele que lhe deu a primeira oportunidade em mostrar o dom das cobranças de falta: Muricy Ramalho. O que parecia uma aventura no começo da carreira, hoje é uma das principais armas do São Paulo. Tão perigosa que já decidiu até título, como o do Paulistão de 2000, contra o Santos, que terminou empatado em 2 a 2, com um gol de Ceni em Carlos Germano – o São Paulo havia vencido (1 a 0) a primeira partida.
Depois de 16 anos de clube e 700 jogos só fica difícil apontar um jogo inesquecível de Rogério Ceni. Certamente, cada são-paulino tem o seu.