Rodada de reajustes pressiona a inflação

O ano mal começou e já há pressões para a alta de preços de matérias-primas e componentes industriais de até 10%, num cenário em que, nos últimos meses, a inflação dava sinais de inanição. O aço zincado, por exemplo, que recebe um banho de zinco e é usado nos eletrodomésticos, foi reajustado entre 5% e 6% este mês. A resina de polietileno, que é a matéria-prima básica das embalagens plásticas, subiu entre 4% e 5%. O compressor, um dos principais componentes das geladeiras, aumentou 10%.

Não são apenas as indústrias que estão sendo pressionadas para reajustar preços. Neste começo de ano, o consumidor desembolsa 10% mais pelo feijão e até 40% pelas hortaliças e legumes. Nos alimentos industrializados e artigos de higiene e limpeza vendidos nos supermercados há indicações de aumentos de preços de tabelas entre 2% e 5%, com o fim das promoções de dezembro.

No caso dos alimentos in natura, os reajustes têm uma justificativa imediata, que é a diminuição da oferta por causa dos danos provocados pelas chuvas desde a virada do ano. Nos produtos industriais, no entanto, a causa é mais remota. Trata-se de recomposição de margens dos fabricantes, que foram comprimidas em 2006 por causa da alta de preços dos insumos e de custos de mão-de-obra.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Resinas Plásticas, José Ricardo Roriz Coelho, confirma o aumento do preço do polietileno. Apesar do recuo da cotação do petróleo nos últimos meses, ele argumenta que se trata de um reajuste defasado, que reflete a alta da commodity e do preço da nafta no primeiro semestre do ano passado. A tonelada da nafta, derivado de petróleo e principal matéria-prima na produção de resina plástica, atingiu US$ 650 em 2006 e agora está cotada a US$ 540, cerca de 35% acima do nível normal. Além da pressão da defasagem de custos, o mercado internacional é francamente comprador para as resinas plásticas porque os estoques mundiais estão baixos, observa Coelho.

As gigantes da siderurgia, CSN e Usiminas, não comentam a política de preços do aço. Mas, segundo o mercado, também se trata de recomposição da alta de custos de matérias-primas ocorrida em 2006, como o zinco e o minério de ferro.

"Os preços dos compressores foram reajustados em aproximadamente 10% este mês", afirma Patricio Mendizabal, presidente da Mabe, que fabrica eletrodomésticos das marcas GE e Dako. Ele diz que pretende adiar o repasse ao consumidor. Mas, caso haja chance de reajuste, a alta poderá ser de 5%, diferenciada por produto.

Também no segmento de bens duráveis, há indicações de que os fabricantes se preparam para aumentar entre 5% e 10% os preços das TVs neste início de ano. Depois da forte liquidação dos estoques nas últimas semanas, as fábricas estariam se preparando para reduzir o ritmo de produção com objetivo de sustentar a alta de preços.

Para a economista-chefe do ABN-Amro, Zeina Latif, as pressões por aumentos nos alimentos, bens duráveis e combustíveis são localizadas e de efeito transitório na inflação. "O impacto pode ocorrer em um ou dois meses e volta ao normal." Ela não crê que o álcool, com 4,52% no IPC-Fipe esta semana, suba 40% como em 2006.

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