Roberto Jefferson faz nova denúncia contra Valério na CPI

Brasília (AE) – O deputado Roberto Jeferson (PTB-RJ) disse hoje (4), em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão, que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza informou-lhe que conseguiria entre R$ 90 milhões e 120 milhões, que seriam distribuídos para o PT e o PTB caso fosse concretizada uma operação de reestatização das linhas de transmissão das distribuidoras de energia da Eletronorte.

Para tanto, disse Valério a Jefferson, teria de haver uma grande operação internacional de transferência de recursos envolvendo o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Hoje, o IRB tem cerca de U$ 800 milhões aplicados em bancos ingleses e suíços. Destes, o IRB deveria transferir U$ 600 milhões para o Banco Espírito Santo (BES), de Portugal. Com o dinheiro, o BES destinaria de R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões para o financiamento da reestatização das linhas da Eletronorte. Para PT e PTB, haveria uma comissão de 3%. "Na época, o presidente da Eletronorte era o Roberto Salmeron, do PTB", lembrou Jefferson.

Esse e outros detalhes acrescentaram um pouco mais dados às informações de Jefferson, que costumam ser dadas a conta-gotas, sempre de forma planejada. Ele já havia contado à CPI dos Correios que fora procurado por Marcos Valério para intermediar a operação de migração do dinheiro do IRB, mas nunca tinha informado como o dinheiro seria apurado aqui no Brasil. Hoje, no primeiro depoimento tomado pela CPI do Mensalão, Jefferson estava bem à vontade. E, assim, acabou por sugerir até mesmo a origem do dinheiro do esquema de corrupção montado pelo PT, a grande pergunta de todos.

Em primeiro lugar, viria de estatais, em grandes operações que ficariam sob o controle de Marcos Valério. Em segundo, do esquema de publicidade do governo. Para Jefferson, hoje não há dúvidas de que o ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) participava do esquema. "Foi o Gushiken que juntou publicidade com fundos de pensão. Isso é uma tentação perigosa", disse Jefferson.

Por fim, de acordo com as revelações de Jefferson, haveria o esquema de financiamento internacional. Este poderia ter rendido cerca de R$ 24 milhões (? 8 milhões) para o PT e o PTB – R$ 12 milhões para cada um dos partidos – se tivesse prosperado um acerto com a Portugal Telecom (controladora, entre outras, da Vivo). "Se tivesse dado certo, as crises estariam sanadas. As tensões estariam superadas", afirmou ao ser interrogado pelo deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). "Em casa que não tem pão, todo mundo briga e ninguém tem razão".

Jefferson disse ainda que os parlamentares devem investigar o Banco Santos, que está sob intervenção. Disse que muitos fundos de pensão aplicavam seu dinheiro ali, bem como Marcos Valério.

Jefferson não poupou seus dois maiores inimigos, o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) e o ex-deputado Valdemar da Costa Neto (SP), que renunciou ao mandato na segunda-feira por causa do escândalo do mensalão. Mas poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de todo tipo de suspeita, por mais que tenha sido provocado pelos parlamentares de oposição. "Dirceu é o chefe da quadrilha", atacou. "O presidente Lula não sabia de nada. Ele foi traído pelo Dirceu", disse. "Eu guardei a denúncia de que o Dirceu era o cabeça da tentativa de levantar dinheiro da PT Telecom para seu depoimento no Conselho de Ética, na terça-feira. Quando falei, ele ficou tão surpreso que afinou a voz", gabou-se. "O útero, a matriz da corrupção não está aqui (Congresso Nacional). Está do outro lado da rua (Palácio do Planalto)".

Quanto a Costa Neto, que abriu o processo para a cassação de seu mandato, Jefferson procurou desmoralizá-lo. "Bastou a dona Simone (Simone Vasconcelos, diretora-financeira da SMP&B), dizer que ele recebeu R$ 10 milhões, que ele botou R$ 10 num veado e correu. Ele é fraco, blefou no jogo e correu. É galo fujão, galo mutuca, como dizemos no Rio".

Roberto Jefferson voltou a dizer que recebeu R$ 4 milhões do PT, em julho do ano passado, a primeira parcela de um total de R$ 20 milhões. Mas só recebeu a primeira parte. A princípio, disse que tinha guardado o dinheiro num cofre e que não distribuíra nada para ninguém. Depois, afirmou que tinha distribuído o dinheiro e que jamais vai dizer para quem foi, "para não prejudicar inocentes".

No seu depoimento, Jefferson voltou a dizer que recebiam dinheiro do esquema do "mensalão" Valdemar da Costa Neto, o líder do PP, José Janene (PR), o ex-líder Pedro Henry (PP-MT) e o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ). Afirmou que todos eles devem ter repassado para outros o dinheiro que pegaram. Procurou poupar o ex-líder do PT Paulo Rocha (PA), ao qual são atribuídas retiradas de quase R$ 1 milhão. "O Paulo Rocha não está metido no ‘mensalão’. Ele pegou dinheiro foi para pagar dívida de campanha".

Quebra de sigilo – A CPI do Mensalão aprovou, por 23 votos favoráveis e nenhum contrário, requerimento de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico do empresário Marcos Valério e de suas empresas SMP&B e DNA, além do seu sócio Cristiano de Melo Paz. Essa autorização permitirá que os parlamentares da CPI tenham acesso aos documentos já em poder da CPI dos Correios.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo