Brasília (AE) – O ritual dos deputados de oposição na entrega do pedido de cassação do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), provocou tumulto, constrangimentos e protestos no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, que foi obrigado a interromper o testemunho do deputado Eduardo Campos (PSB-PE). O saldo registrou ainda uma cadeira e um copo quebrados. "Suspenderam a sessão para que pudéssemos assistir a esse bacanal ou qualquer coisa que não trás uma decência para Casa", afirmou o deputado Benedito de Lira (PP-AL), assim que a sessão foi restabelecida.
Lira argumentou que a representação poderia ter sido entregue na secretaria do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. "É preciso fazer o carnaval porque as vedetes precisam dar entrevistas", continuou. "Acharam que aqui era o melhor teatro", completou. O deputado Nelson Trad (PMDB-MS) também protestou: "Isso é uma ofensa ao Conselho. Não aceito esse desrespeito". O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP), solidarizou-se ao protesto e acrescentou: "Se não é bacanal, a orgia política já está instalada e a bagunça não pode imperar nesse conselho."
De braços entrelaçados, como nas manifestações de rua realizadas contra a ditadura, os deputados saíram do gabinete da liderança do PDT e seguiram pelos corredores da Câmara até o Conselho de Ética e Decoro acompanhados de um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. No mesmo passo, o grupo entrou no plenário em que se realizava a reunião do Conselho de Ética, provocando a interrupção da sessão. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), fez um discurso sobre a "gravidade do momento histórico".
O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), pegou o embalo e rendeu-se aos holofotes dando seguidas entrevistas. Chamado à razão, ele retirou-se do plenário para terminar as declarações e, em seguida, desculpar-se aos conselheiros. "Infelizmente, foi uma avalanche. Um tumulto geral. Não tive como segurar", disse.
