Na queda-de-braço entre os controladores de vôo e o governo, ganham os militares. O governo civil dobrou-se à necessidade de que não haja quebra de hierarquia e que a Aeronáutica se mantenha respeitada. Assim, depois de vestir uma saia justa, a parte civil do governo acabou curvando-se ao óbvio. Se o serviço de controle de vôo é militar, as regras militares têm de ser obedecidas. Os ministros civis, e até o presidente, não podem arriscar um embate que ameaçaria até mesmo as instituições.

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O que mais importa é que no emaranhado de estradas dos céus do Brasil aviões voltem a transitar seguros e no horário. A segurança passa a ser um aspecto mais importante do que o embate entre grevistas, insubordinados e autoridades.

Em Genebra, a Federação Internacional de Pilotos publicou um manual orientando empresas aéreas estrangeiras a respeito dos riscos de voar pelo Brasil. Entre as recomendações está listado que os controladores brasileiros não falam, necessariamente, inglês. E o inglês é a língua utilizada nos contatos entre tripulações de aviões estrangeiros e as torres de controle. Adverte ainda que, mesmo quando o avião não está em área coberta por radar, os nossos controladores de vôo tendem a informar que o vôo está sendo monitorado. Também que mudanças recomendadas nos planos de vôo não são comunicadas entre uma torre de comando e outra.

Este documento não é de agora. Foi elaborado entre janeiro e fevereiro e divulgado quando chegou ao ápice o caos aéreo no Brasil. A entidade internacional pede que todos os pilotos mantenham um ?alto nível de alerta? enquanto operam no Brasil e afirma estar ?particularmente preocupada? com os métodos usados pelos controladores em suas atividades, ?quando comparado àquilo que os pilotos estão acostumados a encontrar em outras partes do mundo?. Exagero? Certamente não, pois controladores de vôo brasileiros, sem se deixarem identificar, confirmaram a meios de comunicação a existência de dificuldades de contatos com as aeronaves e destas com as torres de controle; a existência, em território brasileiro, de pontos cegos e vastas regiões onde não há cobertura nem de voz nem por radar. O principal alerta da federação se refere ao fato de que o uso de radares no Brasil não é pleno. Segundo o documento, ?as deficiências são causadas pela falta de monitoramento?.

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O governo brasileiro também está preocupado com o problema da segurança de vôo. O presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), brigadeiro José Carlos Pereira, diz que o principal objetivo agora é manter o bom funcionamento do sistema. ?Os controladores não podem trabalhar sob stress, pois o risco para a população pode ser grande?, disse ele, após audiência pública sobre as obras na pista de Congonhas.

Pois stress há e aumenta com as punições e o estado de greve decretado. Portanto, ganhe quem ganhar a queda-de-braço, quem de fato está em maior perigo são os passageiros e espera-se que, enquanto se discute a desmilitarização ou não do setor, punição ou não dos grevistas, que se pense em como recuperar não só a confiança da aviação internacional, mas, principalmente, dos cidadãos que desejam voar em segurança.

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