Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inverteu-se o caminho descendente dos juros e a Selic, taxa básica, subiu de 11,25% para 11,75%. A decisão foi tomada depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, haver anunciado que esse movimento ascendente poderia ser necessário, o que lhe valeu um pito público do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o desmentiu e disse que não autorizara nenhum aumento dos juros. Posteriormente, falando no exterior, Lula lavou as mãos como Pilatos. Disse que não se metia nessa história de juros básicos. Que o Banco Central tinha autonomia e capacidade para ditar a política que considerasse mais apropriada. E este aplicou a alta da taxa.

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Ao vir a lume a ata da decisiva reunião do Copom dando conta que o Banco Central vê o avanço da renda e do crédito no País como fatores que impulsionam a demanda, podendo causar aumento da inflação. A instituição assevera que diante desse risco, vai continuar atuando com ?prudência?.

?O ritmo da expansão da demanda doméstica, que deve continuar sendo sustentado, entre outros fatores, pelas transferências fiscais e pelo crescimento da renda e do crédito, continua colocando riscos para a dinâmica inflacionária?, diz a ata. E acrescenta que os sinais de aquecimento da atividade alimentam o risco para ?a concretização de um cenário inflacionário benigno?. Um traço de esperança, pois no entendimento do BC há resposta da produção ao exacerbamento da demanda.

Para o Comitê, ?a persistência de descompasso importante entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas tende a aumentar o risco para a dinâmica inflacionária?.

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Essa linguagem técnica e rebuscada certamente escapa ao entendimento dos consumidores em geral, que só percebem o que está acontecendo na alta dos preços dos alimentos, no aumento do consumo de bens duráveis como eletrodomésticos e automóveis. E sente agora o aumento da taxa de juros, que elevada na base, começa a repercutir nas operações de financiamentos e mesmo nos preços, já que em quase tudo há componentes financeiros.

Quando o Copom decide sobre a taxa Selic, quando a faz variar, e nessa última vez foi para cima, apresenta um viés, ou seja, um possível rumo. Será um viés de baixa, de alta ou de estabilidade.

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Não se pode dizer que desta vez, quando elevou em meio ponto percentual a taxa básica, o Copom apresentou um claro viés de alta, mas o uso da expressão ?prudência? e a análise feita da situação de desequilíbrio entre a oferta e a procura causada pelo aumento do poder de compra da população e a oferta ampla de juros baixos mais parecem um viés de alta.

Com efeito, não é possível crescer a qualquer preço. Um preço pode vir com o crescimento não sustentado, que é a inflação que pode chegar a um patamar fora de controle. A alta de juros é um instrumento para conter a demanda tornando os financiamentos e as mercadorias menos acessíveis à população.

Fica claro, pois, que apesar do discurso populista de casas baratas, automóveis baratos, maiores salários e outros avanços que enchem o peito dos integrantes do governo, o caminho disto que parece progresso pode não ser o mais indicado. O preço desse tipo de crescimento pode ser a alta dos preços dos bens e serviços e ela já vem sendo sentida, notadamente nos alimentos, o que aflige toda a população.

O acesso à geladeira nova, ao televisor de última geração, ao carro do ano e à casa própria a ser paga a longuíssimo prazo e a juros baixos em termos de Brasil, podem ter como preço o aumento do pão, das verduras, dos enlatados, do feijão com arroz.