O mercado brasileiro teve hoje um dia bastante positivo, marcado pela disparada dos títulos da dívida externa e da bolsa. Num ambiente favorecido pelo bom desempenho das bolsas internacionais, as declarações do coordenador do programa de governo do PT, Antônio Palocci, de que o partido vai manter, num eventual governo Lula, o esforço fiscal o quanto for necessário para equilibrar as contas públicas tiveram boa repercussão entre os investidores, levando o C-Bond a subir 5,85%, para 52% do valor de face, e a Bolsa a fechar em alta de 6,34%, a maior desde 5 de novembro do ano passado.

Nesse cenário, o risco país caiu 8,66%. O dólar, por sua vez, recuou apenas 0,26%, fechando em R$ 3,91, por causa de fatores técnicos específicos do mercado – nas próximas duas semanas, os vencimentos de títulos cambiais totalizam US$ 2,5 bilhões.

O economista-chefe do banco JP Morgan, Luís Fernando Lopes, disse que os títulos brasileiros se beneficiaram, no começo do dia, da alta generalizada de papéis de países emergentes, que subiram embalados pelos rumores de que a agência de classificação de risco Moody?s melhoraria o crédito da dívida da Rússia. A alta das bolsas americanas – o índice Dow Jones subiu 2,97% e o Nasdaq, 3,25% – também ajudou.

Mas o que realmente levou o C-Bond a romper a barreira de 50% do valor de face e provocou a disparada do Índice Bovespa (Ibovespa) foram as declarações de Palocci, que reafirmou – num evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – o compromisso do PT com a manutenção do superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com pagamento de juros) o quanto for necessário para equilibrar as contas públicas, além de rumores de que o PT poderia, no governo, aumentar a meta fiscal de 3,75% para 5% do PIB.

Segundo o estrategista-chefe do HSBC Investment Bank, Dawber Gontijo, esses fatores alimentaram a expectativa de que um governo petista manterá políticas fiscais apertadas, impulsionando os títulos da dívida e a Bolsa. Ele lembrou ainda que, nesta semana, vários integrantes do PT afirmaram que o partido pretende conceder a autonomia operacional ao BC. Além disso, também surgiram rumores – logo desmentidos – de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se eleito, anunciaria a equipe econômica no dia 28, um dia após as eleições.

Analistas destacaram, no entanto, que a forte alta dos títulos da dívida e da bolsa também se deve ao fato de que os papéis nos dois mercados estavam muito baratos. O Ibovespa, por exemplo, acumula queda de 34,46% no ano mesmo depois da alta de 6,34% registrada ontem. Lopes disse que, no caso dos títulos da dívida, alguns investidores que apostavam na queda das cotações tiveram de desmontar essas posições às pressas, o que acentuou o movimento de alta. Por causa disso, ele entende que é prematuro afirmar que o mercado brasileiro vai entrar numa trajetória consistente de recuperação.

O câmbio, por sua vez, teve um comportamento menos positivo. Pela manhã, o dólar atingiu a máxima de R$ 3,965. Segundo operadores, como o BC rolou 61% dos US$ 3,6 bilhões de títulos cambiais que venceram hoje, era esperado que parte dos investidores que não conseguiram renovar seus papéis comprasse dólares. Depois de atingir R$ 3,965, as instituições aproveitaram para embolsar os ganhos recentes, e o dólar caiu para R$ 3,85, acompanhando o desempenho dos outros mercados. Mas  como há vencimentos significativos de títulos cambiais – no dia 23, US$ 1,1 bilhão, e em 1.º de novembro, US$ 1,955 bilhão – a demanda pela moeda voltou a aumentar no fim do dia. Segundo operadores, o BC vendeu entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões.

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