Quando Armínio Fraga foi indicado para a presidência do Banco Central, fizeram-lhe pública oposição. Toda a oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso foi contra, especialmente as alas mais à esquerda, as que adotam denominações como progressistas, nacionalistas, trabalhistas, socialistas e outros istas. O argumento essencial contra Fraga, senão o único, era que ele trabalhara, nos Estados Unidos, para o grande especulador internacional George Soros, um húngaro naturalizado norte-americano que tem interesses em vários países. O argumento favorável a Armínio Fraga era o mesmo. Se trabalhara para Soros, deveria entender do riscado. Era um homem do mercado, que conhece seus meandros e jogadas e a posição do Brasil, país grande devedor no mercado interno e internacional, exigia alguém que fosse do ramo. Nunca um tecnocrata ou um político, conhecedor de teorias, mas não da prática. Opositores mais ferozes da indicação de Armínio Fraga qualificavam sua nomeação como encarregar o lobo de cuidar do rebanho de cordeiros. A despeito da oposição, Fraga foi nomeado e ganhou prestígio no cargo, aqui no Brasil e lá fora.
Soros vem, ultimamente, sendo uma das vozes mais ouvidas sobre a crise internacional e não se tem furtado a opinar inclusive sobre o Brasil. Na verdade, o megaespeculador é um administrador de fundos, a maior parte de terceiros. Um profissional, especialista muito respeitado, apesar dos preconceitos que contra ele aqui se revelaram quando seu ex-colaborador foi indicado para o Banco Central.
Passado o primeiro turno das eleições brasileiras, depois de ter engrossado as vozes que se manifestaram contra a satanização do petista Lula diante do mercado, Soros volta a referir-se à crise no Brasil e no mundo. Para ele, “se um país como o Brasil, que implementou políticas sólidas, não pode se sustentar, então há o risco real de um colapso financeiro global.” Em palestra na London School of Economics, da Universidade de Londres, disse que a instabilidade brasileira evidencia o fracasso do Fundo Monetário Internacional, “um sistema que deve ser reformulado”. Acrescentou que “se o sistema não tem como apoiar um país que foi um dos seus melhores alunos, isso demonstra que a globalização não funciona.” Ele ainda criticou a animosidade dos investidores diante da possibilidade da vitória de Lula. “Por que os mercados sempre têm medo de quem não é de sua linha? ” – perguntou.
George Soros fez uma previsão importante sobre o futuro do Brasil a curto prazo. Para ele, “a chance de o Brasil ser obrigado a reorganizar seu débito é superior a 50%”. O País, em sua opinião, terá de reestruturar sua dívida, seja quem for o presidente eleito, pois não agüentará por muito tempo continuar pagando juros tão elevados para captar recursos no exterior. E sustenta que as elevadas taxas exigidas pelo mercado não recuarão tão cedo.
A abordagem de Soros é de um verdadeiro conhecedor, homem de mercado e expressa-se sem preconceitos. Ele vê uma crise mundial e aponta o fracasso do FMI em relação ao Brasil, além de condenar a globalização como hoje se dá. Não hostiliza nenhum dos dois candidatos à Presidência do Brasil. Tal posicionamento, confrontado com o que dele se dizia aqui, quando indicaram Armínio Fraga para o Banco Central, mostra uma imagem diversa daquela que dele projetaram. A de alguém que poderia ser do PSDB e até do PT de Lula.
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