Há um cheiro de fritura no ar e na frigideira parece que está o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Crescem os comentários de que ele será candidato a deputado federal, o que o obriga à desincompatibilização já no início de 2006. Uma saída honrosa e até cômoda para quem sente que ao redor de si, apesar das juras de amor da cúpula governamental, há um desejo expresso de mudança da política econômica. E ele faça exatamente o que ele sempre disse que não fará e, se for obrigado, renunciará. Referimo-nos à condução do ajuste fiscal buscando superávites superiores aos das metas anuais do governo e até acima das previsões dos mais conservadores entre os analistas e economistas ortodoxos.
Palocci dirigiu a política econômica até aqui com o que o vulgo costuma chamar de ?mão-de-vaca?. Chegou a economizar até mais do que exigia o Fundo Monetário Internacional e o resultado foi o descontentamento geral no seio do governo. Os ministérios ficaram sem verbas e os seus programas frustrados. Em alguns casos, até mesmo as despesas de custeio entraram num clima de mendicância.
A ministra Dilma Rousseff protestou publicamente. E, como é chefe da Casa Civil, com gabinete no Planalto, ao lado do de Lula, é muito provável que tudo fez com o consentimento do presidente da República. Quem sabe, até com o seu apoio. Sem falar nos protestos do vice-presidente José Alencar que, aliás, é também ministro da Defesa, embora seja certo que fala com o ponto de vista de empresário que é. Além de José Alencar, o ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, discursou contra a política econômica, ou melhor, falta de política econômica do governo.
Aqueles ministros e os demais que não se manifestam, mas que choram debaixo das cobertas suas desventuras por falta de dinheiro para tocar suas pastas, foram reunidos pelo presidente Lula. O encontro foi fechado para a imprensa, o que faz crer que muita roupa suja foi lavada. A posteriori, a imprensa foi recolhendo aqui e ali informações do que aconteceu entre as quatro paredes palacianas.
A notícia é de que os ministros pressionaram o titular da Fazenda, Antônio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para que haja uma correção de rumos na política econômica. Os críticos mais severos teriam sido Luiz Fernando Furlan, Ciro Gomes e Luiz Marinho. A ministra Rousseff, que já usou a sua dose de críticas, portou-se com diplomacia.
Para Lula, que jogou água fria no entrevero, interessa uma política fiscal mais folgada para que possa fazer campanha para a reeleição mostrando alguma coisa que dê votos. Projetos sociais mais amplos, por exemplo, que atinjam um maior número de pessoas (eleitores) e sejam visíveis. Até agora, os que existem e funcionam são tão limitados, levando-se em consideração as dimensões continentais deste País e sua numerosa população, que se vive com a impressão de que o governo nada fez e nada faz.
Palocci jurou de pés juntos que ele não mudará a política econômica e, como agora o pressionam para que o faça, dá até para apostar que sai do comando da Fazenda e se candidata a deputado federal por São Paulo. E Meirelles talvez tente o sonho que acalenta de ser governador de Goiás.